Em águas internacionais, soldados israelenses abordam embarcações que pretendiam romper o bloqueio e levar ajuda a palestinos da Faixa de Gaza, abrem fogo contra grupo de ativistas e forçam navios a desviar a rota; Exército diz ter agido em legítima defesa
Nathalia Watkins, ESPECIAL PARA O ESTADO, JERUSALÉM - O Estado de S.Paulo
Numa ação que revoltou o mundo árabe e irritou o restante da comunidade internacional, o Exército israelense atacou ontem uma flotilha de seis embarcações que pretendia romper o cerco à Faixa de Gaza, que Israel mantém desde 2007. O assalto aos navios, em águas internacionais, deixou o saldo de pelo menos 10 mortos e 25 feridos, além de 600 passageiros detidos.
A operação israelense frustrou a expedição da ONG Free Gaza. O ataque aos navios ocorreu a pelo menos 130 quilômetros da costa israelense, por volta das 4h30 locais (22h30 de domingo em Brasília). Israel mantém o controle das águas territoriais a até 20 milhas (37 quilômetros) da costa da Faixa de Gaza. A ação mais violenta ocorreu no navio turco Mavi Marmara. Nas outras cinco embarcações, a resistência foi pacífica.
"Na escuridão da noite, os militares israelenses desceram de um helicóptero para o barco turco de passageiros Mavi Marmara e começaram a atirar quando pisaram no convés. Eles atiraram em direção à multidão de civis que dormia", afirma o site do Movimento Gaza Livre. De acordo com o Exército israelense, os soldados foram recebidos com violência e tiros - um deles disparado por uma arma capturada de um militar -, enquanto tentavam redirecionar a expedição para o Porto de Ashdod, no sul de Israel - o que teria dado início aos confrontos.
Os ativistas de 38 países e suas embarcações foram recebidos em um centro montado no Porto de Ashdod. As embarcações menores começaram a atracar por volta das 13 horas (horário local), mas o maior dos navios, o Marmara, aportou no final da tarde. Os feridos, cerca de 25, foram levados de helicóptero a 6 hospitais israelenses. Os ativistas que se identificam e concordam com a deportação são levados diretamente para o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel-Aviv. Aqueles que se recusam são transferidos para uma prisão em Beer Sheva, no sul de Israel. Ontem à noite, 25 ativistas teriam concordado com a deportação. Pelo menos 32 haviam sido presos - 16 por rejeitar se identificar.
Segundo a imprensa israelense, vários ativistas jogaram seus passaportes no mar para dificultar a identificação e deportação.
Israel nega que haja uma crise humana na Faixa de Gaza, e alega que a missão de paz foi, na verdade, um golpe publicitário.