Diretora da indústria sueca explica como a transferência de tecnologia para a fabricação de caças supersônicos pode ajudar o País e o ABCD
ABCD MAIOREm visita ao ABCD MAIOR, a diretora de comunicação da Saab, Anne Lewis-Olsson, falou sobre a proposta da empresa para a licitação FX-2, pela qual o governo federal pretende comprar 36 caças supersônicos para a renovação da frota da FAB (Força Aérea Brasileira). A indústria sueca disputa o negócio bilionário com a francesa Dassault e a norteamericana Boeing. O resultado do processo deverá ser anunciado pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva nas próximas semanas. O caça Gripen NG, produzido pela Saab, é considerado o mais adequado pela FAB e representa a opção menos onerosa para o governo federal. A proposta da indústria sueca é aproveitar o desenvolvimento tecnológico da indústria automotiva do ABCD para instalar um polo aeronáutico em São Bernardo e concentrar a produção de peças da aeronave na Região. Na entrevista exclusiva, Anne fala sobre como seria a transferência de tecnologia sueca para o Brasil.
ABCD MAIOR – Por que a proposta da SAAB é diferente das outras empresas que concorrem na licitação FX-2?
Anne Lewis-Olsson – Porque traremos um programa de desenvolvimento para o Brasil. É uma parceria que queremos conduzir lado a lado com o País. A transferência de tecnologia é a principal vantagem da nossa proposta. Isso ampliará o desenvolvimento industrial da região que vai receber a tecnologia, no caso, especialmente, o ABCD. A chegada do polo aeronáutico a São Bernardo e de fábricas voltadas para o setor aeroespacial trará mais tecnologia e novos produtos. A presença das indústrias do setor automotivo da Região facilitam ainda mais a transferência de tecnologia, pois as empresas já estão preparadas para recebê-la. É isso que acreditamos que acontecerá. Ao obter o conhecimento tecnológico, o Brasil passará a dominá-lo e, assim, o aplicará conforme as necessidades do País. O retorno é muito maior do que o investimento. Há estudos apontando que este é um setor que promove o retorno financeiro duas vezes e meia maior do que o valor investido.
ABCD MAIOR – A Saab já transferiu tecnologia para a produção de caças para outros países?
Anne – Venho trabalhando com o Gripen desde 2002. Trabalhei nas campanhas da Hungria, da República Checa e da África do Sul. No caso sul-africano aplicamos o projeto de transferência de tecnologia, pois eles queriam desenvolver sistemas de vôo. Os testes com as aeronaves eram feitos lá. Nós ensinamos o que eles precisavam e agora eles fazem tudo por conta própria. É isso que propomos no caso brasileiro. Para que haja a transferência é preciso que o país tenha capacidade de absorver a tecnologia. A Hungria e a República Checa não tinham as indústrias adequadas para tanto, então vendemos aeronaves prontas.
ABCD MAIOR – O Brasil teria capacidade para absorver a tecnologia?
Anne – O Brasil tem a base para administrar a tecnologia e o projeto de transferência de tecnologia que propomos na licitação FX-2 é inédito para a Saab em todo o mundo. A produção brasileira possibilitaria a comercialização mundial dos caças e nós vemos um horizonte promissor por aqui. Há muitas aeronaves velhas que precisam ser trocadas no mundo e, com a parceria futura, o País terá direitos de venda para a América Latina e poderão ser líderes de mercado. Isso nos dá a possibilidade de trabalharmos juntos também na comercialização. Sendo modestos creio que poderemos atuar em 10% ou 20% dos negócios envolvendo caças supersônicos no mundo nos próximos 20 anos. Ao todo, 3 mil aeronaves precisarão ser renovadas, mas isso não deverá acontecer com todas.
(Colaborou Vinicius Morende)