Junia Oliveira - Estado de Minas
Conseguir uma consulta especializada na rede pública de saúde é um teste de paciência, que pode se arrastar por meses a fio. Bem sabe o estudante Samuel Augusto Gonçalves, de 15 anos. Com problemas sanguíneos, ele toma injeção a cada 21 dias, desde os 4 anos. Periodicamente, faz exames para saber se o corpo está respondendo bem e se pode ser liberado das agulhadas. Em junho do ano passado, o médico do centro de saúde lhe pediu um ecocardiograma e, há quase um ano, o adolescente aguarda na fila. A avó dele, a dona de casa Ana Pereira, de 56 anos, se conforma: "Ficamos preocupados, mas já estamos acostumados a esperar". Ontem, Samuel finalmente fez o exame, numa unidade bem diferente. Assim como ele, cerca de 600 pessoas devem ser atendidas diariamente, até sexta-feira, no Hospital de Campanha da Força Aérea Brasileira (FAB), montado no Parque Lagoa do Nado, no Bairro Itapoã, na Pampulha, em Belo Horizonte. O trabalho começou ontem e envolve médicos, farmacêuticos e dentistas.
O atendimento faz parte da preparação de profissionais que acabaram de ingressar na FAB. Futuros oficiais de todos os estados passam por treinamento de 18 semanas em BH, onde fica o Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (Ciaar). O hospital é um dos instrumentos de formação. A cada ano, as especialidades são ofertadas segundo as vagas preenchidas pelos profissionais. "Precisamos de treinamento constante, pois cada missão tem uma peculiaridade. A atuação do Hospital de Campanha é nas guerras, mas pode ser acionado pelo Ministério da Defesa para ações humanitárias", afirmou o capitão-médico João Maurício Mendonça Figueira, chefe da divisão médica. Parte do hospital funciona no Haiti.
Os equipamentos usados em BH são fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde. Depois do atendimento, os pacientes recebem encaminhamento para continuar o tratamento na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), na capital. A gerente regional de Atenção à Saúde da Pampulha, Cíntia Maria Gomes e Silva, acredita que uma semana de trabalho dos militares contribuirá bastante para diminuir a fila de espera por consultas especializadas. "É um alívio nos centros de saúde, que podem atender outros pacientes. Somente na Pampulha, temos média de 300 consultas marcadas esta semana. É um impacto considerável para o centro de especialidades médicas da regional", disse.
A cuidadora de idosos Adair Ferreira de Melo, de 53, saiu satisfeita com a consulta de ginecologia. "Acho que valeu a pena esperar e tomar chuva. Foi como um atendimento particular, por causa do jeito de falar e de explicar da médica. Nunca tive um atendimento desse em um centro de saúde", relatou, emocionada. Há três meses ela esperava a chance de entregar ao médico o resultado de um exame ginecológico. "Tenho um sangramento e a doutora me receitou um remédio. Os outros médicos que já consultei não fizeram nada. Tenho esperança de agora melhorar, pois preciso trabalhar. Já perdi muita oportunidade de emprego por causa desse problema."
SERVIÇO
Estão abertas, até dia 20, as inscrições para o concurso da FAB para médicos, dentistas e farmacêuticos. São 119 vagas e o salário é de R$ 6 mil.