Myung-bak impõe medidas contra Coreia do Norte. EUA preparam teste militar conjunto
Rodrigo Craveiro - Correio Braziliense
Basta um único tiro para lançar parte da Ásia no caos. Em um dos discursos mais contundentes de um presidente da Coreia do Sul nos últimos tempos, Lee Myung-bak foi enfático ao mandar um recado para o regime norte-coreano de Kim Jong-il. Em pleno Memorial da Guerra da Coreia, no centro de Seul, ele avisou: "Se nossas águas territoriais, nosso espaço aéreo e nosso território forem violados militarmente, nós exercitaremos imediatamente nosso direito à autodefesa".
Em rede nacional de TV, o líder sul-coreano exigiu desculpas da Coreia do Norte pelo naufrágio da corveta Cheonan (PCC-772) — o ataque deixou 46 mortos, em 26 de março passado. "A partir de agora, a República da Coreia não vai tolerar qualquer ato de provocação pelo Norte e manterá o princípio de dissuasão proativa", declarou. Myung-bak anunciou algumas medidas contra os vizinhos, que incluem desde o rompimento das relações comerciais, uma guerra psicológica e a proibição de acesso às águas territoriais. "As coisas mudaram. A Coreia do Norte vai pagar um preço à altura de suas provocações", acrescentou.
Ao mesmo tempo, o Pentágono revelou que as Forças Armadas dos Estados Unidos realizarão exercícios militares com os sul-coreanos em um "futuro próximo", na costa ocidental da Península Coreana. Segundo o porta-voz Bryan Whitman, a parceria se focará em treinamentos de interdição antissubmarina e marítima. Os objetivos seriam aprimorar a capacidade de detecção de submarinos inimigos e bloquear a passagem de embarcações com carga nuclear.
Revisão
O presidente norte-americano, Barack Obama, determinou a revisão da política de Washington em relação a Pyongyang e aprovou a aplicação de sanções, em caso de novas agressões. "Esta revisão visa assegurar que tomemos as medidas apropriadas e identifiquemos as zonas onde seja necessário realizar ajustes", disse Robert Gibbs, assessor de imprensa da Casa Branca. Obama ordenou que as forças americanas se coordenem com a Coreia do Sul para "garantir prontidão".
Por e-mail, o sul-coreano Won K. Paik — ex-diretor do Departamento de Ciência Política da Universidade Central de Michigan — descartou que uma guerra seja inevitável, mas admitiu a grande probabilidade de uma escalada. "Se Pyongyang continuar negando qualquer envolvimento e manter uma postura ofensiva, a situação se agravará até um ponto sem retorno", aposta, em entrevista ao Correio.
Ele considera muito alto o risco de um confronto. "A Coreia do Sul reafirma a doutrina de dissuasão, enquanto a Coreia do Norte mantém a mesma lógica e garante ter milhares de mísseis apontados para Seul, onde vivem 20 milhões de pessoas", lembra.
O também sul-coreano Yong Chen, da Universidade da Califórnia-Irvine, prevê mais provocações por parte de Pyongyang, mas duvida de um confronto. "Esse cenário levaria ao colapso da Coreia do Norte e poderia esfarelar a economia do Sul. Os EUA não querem desestabilizar a região", lembra, também por e-mail. De acordo com ele, Seul e Washington usam o naufrágio da Cheonan para fortalecer suas posições e alcançar suas agendas. "Os EUA querem trazer o Norte de volta à mesa de negociação. Pyongyang seguirá com seus esforços para que o mundo a reconheça como potência nuclear."
Reações imediatas
O que o governo sul-coreano decidiu fazer em relação à Coreia do Norte
Comércio
O presidente Lee Myung-bak anunciou que Seul deixará de investir na Zona Industrial de Kaesong, onde mais de 100 empresas operam e onde cerca de mil sul-coreanos trabalham. Também decidiu proibir seus cidadãos de entrar na Coreia do Norte a partir de Kaesong. A Coreia do Sul também cortará qualquer laço econômico e comercial com os vizinhos
Guerra psicológica
Seul instalará 11 placas eletrônicas gigantes ao longo da fronteira com a Coreia do Norte e mandará folhetos para o país vizinho, já na manhã de hoje, por meio dos quais detalhará os resultados da investigação sobre o naufrágio da corveta Cheonan
Bloqueio marítimo
A Coreia do Sul impedirá qualquer navio ou embarcação norte-coreana de entrar em suas águas territoriais
Conselho de Segurança
Myung-bak pretende levar o caso ao Conselho de Segurança das Nações Unido, em busca de sanções contra Pyongyang
Exercícios militares
Os Estados Unidos e a Coreia do Sul realizarão exercícios navais dentro da Iniciativa de Segurança de Proliferação, desenhada para prevenir o tráfico de armas de destruição em massa e tecnologias. Os testes militares também visam prevenir ataques com submarinos