Corporação abrirá processo administrativo para apurar causas do acidente
Paulo Roberto Araújo e Tulio Brandão - O Globo
Uma das fragatas líderes da Marinha de Guerra do Brasil, a Niterói (F-40), encalhou ontem de manhã num banco de areia na Enseada do Forno, em Arraial do Cabo, apesar de ser dotada de ecobatímetro - sonar que mede com precisão a profundidade do mar - e de cartas náuticas elaboradas pela própria Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) da corporação. O acidente ocorreu na maré seca. No entanto, a tábua de marés também é fornecida pela DHN. A embarcação, que teve problemas às 8h30m, foi desencalhada apenas às 18h15m pelo rebocador da Petrobras Ivan Barreto, com o auxílio de mergulhadores militares. Segundo a assessoria de comunicação da Marinha, um processo administrativo será aberto para apurar as causas do acidente.
Em nota, a corporação informou que o problema ocorreu quando a embarcação estava na Enseada do Forno para embarcar uma equipe de especialistas do Centro de Armas da Marinha, que fariam testes operacionais para ajustar os sistemas de bordo. A fragata teria acabado de ser reparada. O navio, que foi construído na Inglaterra e modernizado no Brasil, era comandado pelo capitão de fragata Gilberto Chaves da Silva.
O presidente da Associação de Pescadores de Arraial do Cabo, Joaquim Rodrigues de Carvalho, o Quinzinho, estranhou o local do acidente:
- Nunca vi um barco grande naquela área. Ali não tem canal. No porto, estão dizendo que o navio foi arrastado pelo vento até encalhar, mas não vi o que aconteceu.
Um funcionário de praticagem, que não quis se identificar, informou que os navios de guerra não usam prático nos portos do estado. Os comandantes da Marinha seriam equiparados aos práticos.
- Acho pouco provável que a fragata tenha encalhado enquanto estava navegando. Os bancos de areia constam das cartas náuticas, e qualquer pessoa com o mínimo de experiência sabe onde eles estão. Uma hipótese plausível é que o navio estava fundeado e, por alguma razão, a âncora correu pelo fundo.
Para o mergulhador e profissional de resgate Jorge Luís de Paula, de 42 anos, seja qual for a causa, o encalhe foi um erro.
- Trata-se de um vacilo grande numa época em que as embarcações possuem a tecnologia de sonares, GPS e outros equipamentos de navegação - disse o mergulhador.
O especialista em defesa Alexandre Galante, editor do site Poder Naval, disse que pode ter havido avaria:
- Se as pás de hélice, as aletas estabilizadoras ou o domo do sonar tiverem sido danificados, o prejuízo foi de milhões. Esse risco existe.
Galante lembrou um acidente semelhante que aconteceu com a Marinha americana em fevereiro do ano passado, nos corais próximos ao Aeroporto Internacional de Honolulu, no Havaí. Na ocasião, para vergonha da corporação, um cruzador ficou à vista de turistas. O fato causou tanto embaraço à corporação, que o comandante da embarcação foi destituído de suas funções.
A Marinha do Brasil estava com outro barco encalhado até a última segunda-feira. O naviohospital Doutor Montenegro ficou 26 dias encalhado no Rio Juruá, no Acre, devido a um suposto erro de cálculo do período da maré vazante. Outra situação embaraçosa ocorreu em 25 de dezembro de 2000, quando um acidente levou ao fundo do mar o submarino brasileiro Tonelero. O detalhe é que o naufrágio aconteceu em pleno cais do Arsenal do 1º Distrito Naval, na Praça Mauá, no Rio, onde o submarino estava sendo reparado. A Marinha informou que uma "sequência de avarias em válvulas do sistema hidráulico" inundou os compartimentos da embarcação. O submarino estava avaliado em US$150 milhões.
A fragata Niterói, construída em 1976, tem 192 metros, conta com uma tripulação de 217 militares e é dotada de mísseis antinavio e antiaéreo, canhões, lançadores para torpedos e foguetes antissubmarino, além de dois helicópteros. Atinge a velocidade máxima de 30,5 nós. A fragata participa de ações no Brasil e no exterior.