Aplicação levanta preocupações com a segurança
Por ANDREW E. KRAMER - Folha de SP
MOSCOU - Quando a União Soviética lançou os submarinos da classe Alfa - na época os mais velozes do mundo -, eles eram a maldição dos marinheiros americanos. Agora, os reatores que alimentavam esses submarinos estão sendo apresentados como a próxima inovação em termos de energia limpa.
Ambientalistas dizem que a tecnologia é ultrapassada e potencialmente perigosa, e que vendê-la como energia limpa é abusar da reputação de limpeza da energia nuclear.
Os russos não estão sozinhos na ideia de que a próxima geração de reatores nucleares deveria ter mais em comum com os pequenos geradores dos submarinos do que com as enormes usinas atômicas de hoje em dia. Mas o reator marítimo que os russos promovem também cria um subproduto - o combustível usado- com o qual ninguém quer lidar. Atualmente, esse material fica em armazéns navais no Ártico russo.
Na maioria das instalações nucleares, o combustível usado, altamente radiativo, é retirado do reator e armazenado em uma piscina com água. Mas, no submarino da classe Alfa, o combustível usado é congelado junto com o reator e guardado em outro lugar. Nenhuma solução de engenharia foi concebida por enquanto para descontaminar o combustível.
Na verdade, a tecnologia causou vários acidentes mecânicos quando foi usada nos submarinos soviéticos, entre as décadas de 1970 e 1990.
Kirill Danilenko, diretor da empresa russa Akme Engineering, responsável pelo projeto, disse que a tecnologia pode chegar a ser tão segura quanto a das usinas nucleares maiores.
A promessa de reatores em miniatura alimentando casas, escritórios e escolas ainda está a anos de ser realizada. O primeiro projeto russo, um reator montado sobre uma balsa para ser levado a portos de países em desenvolvimento carentes de energia, já está em construção. Mas a maioria dos envolvidos prevê que pequenos reatores só sejam ligados no final desta década.
Os planos prosseguem na Rússia e em outros lugares, a despeito das críticas de que uma infraestrutura nuclear difusa - com pequenos reatores alimentando muitas cidades de médio porte, por exemplo - seria inerentemente arriscada.
Mas, quando a ciência for aperfeiçoada, a construção de tais reatores será potencialmente bem mais barata, em termos de custo por quilowatt, do que as usinas nucleares tradicionais. Isso não é pouca coisa, já que o dispêndio de capital é o maior custo da energia nuclear, alterando sua competitividade em relação ao carvão.
Defensores lembram que os reguladores nucleares russos e o Departamento de Energia dos Estados Unidos já deram aval aos pequenos reatores.
Nos EUA, empresas com projetos incluem a Westinghouse, fabricante de reatores tradicionais; a Babcock & Wilcox, fabricante de reatores de submarinos para a Marinha americana; e a NuScale, empresa surgida de um projeto de pesquisa da Universidade Estadual do Oregon.
Akme, o nome da empresa russa, é a sigla para "complexo atômico para pequena e média energia". Às vezes o nome é transliterado como Acme.
A meta da Akme é produzir o protótipo de um pequeno reator de 100 megawatts até 2019. Um minirreator deve custar cerca de US$ 100 bilhões.
Mas o produto dificilmente pode ser considerado "verde", disse em entrevista telefônica Igor Kudrik, pesquisador da Fundação Bellona.
O setor nuclear russo, em sua avidez por aproveitar a explosiva demanda global por energia nuclear, inclusive em novas aplicações como os pequenos reatores, desengavetou projetos inseguros, disse Kudrik. "Eles não apareceram com nada novo", afirmou.