Além do exercício militar, feito em rota importante para o comércio de petróleo, Teerã anuncia que fabricará aviões teleguiados
Reuters, Afp e Efe - O Estado de S.Paulo
Pressionado pela comunidade internacional por causa de seu programa nuclear, o Irã testou ontem cinco mísseis em um amplo exercício militar na região do Estreito de Ormuz, uma das principais rotas de comércio de petróleo e gás do mundo. A informação foi divulgada pela agência oficial de notícias Fars News.
Segundo uma autoridade iraniana, citada pela agência de notícias France Presse, o objetivo do teste era, primeiro, garantir que as forças navais, terrestres e aéreas da Guarda Revolucionária iraniana tenham capacidade de "preservar a segurança na região". Segundo, dar uma resposta às "ameaças nucleares" de Washington.
Citado pela imprensa local, Massoud Jazayeri, comandante da Guarda Revolucionária, alertou que os exercícios militares mostram que os "inimigos do Irã" se arrependerão se resolverem atacar o país.
Os EUA e a Europa, que exigem o fim do programa nuclear iraniano, pretendem aprovar em breve no Conselho de Segurança da ONU mais sanções contra Teerã, caso o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad não coopere.
Desafiando a comunidade internacional, Teerã tem anunciado avanços em sua capacidade militar, em uma aparente tentativa de mostrar que o país estaria pronto para ataques de Israel ou dos EUA. Na semana passada, o Pentágono disse que ações militares contra o Irã continuam sendo uma opção, enquanto Washington insiste na diplomacia e na pressão por novas sanções.
Segundo autoridades iranianas, um dos mísseis testados ontem teria um alcance de 300 quilômetros. O alcance dos outros quatro não foi revelado. Apesar de estar submetido a um embargo armamentista desde os anos 80, o Irã desenvolveu um programa bélico que lhe permitiu modernizar seu Exército e dotá-lo de armas, como mísseis de médio alcance. Analistas advertem, porém, que é difícil saber o grau de precisão e desenvolvimento do arsenal de Teerã.
Diálogo na AIEA. Ontem, o chanceler iraniano, Manoucher Mottaki, reuniu-se em Viena com o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukia Amano. Ambos discutiram a proposta de permitir que o Irã compre combustível nuclear de outros países em troca da desistência de enriquecimento de urânio. No fim do dia, porém, a conversa não parecia ter avançado.
Para entender
A questão nuclear iraniana é um dos pontos mais sensíveis da diplomacia mundial. Teerã afirma desenvolver um programa nuclear para fins pacíficos, mas a comunidade internacional, liderada por EUA e Europa, acredita que o país esteja buscando a bomba atômica. Até agora, foram três rodadas de sanções contra o regime dos aiatolás. A primeira, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, em dezembro de 2006, restringia o comércio de material nuclear e congelava ativos de empresas e de indivíduos que participassem do programa iraniano. Em março de 2007, uma segunda rodada de sanções proibiu a venda de armas e ampliou o congelamento de ativos de firmas que fizessem negócios com o Irã. A terceira rodada foi imposta em março de 2008. Ela aumentou a lista de indivíduos e de órgãos cujos ativos estão congelados. Nenhuma delas, porém, fez Teerã desistir do programa nuclear.
Desde então, americanos e europeus negociam novas sanções. Ontem, a julgar pelo teste dos mísseis, o Irã não parece muito preocupado com isso.