Caio Junqueira, de Brasília - Valor
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, deu ontem mais uma vez todos os sinais de que o Brasil optará por comprar os caças Rafale, da empresa francesa Dassault, em detrimento dos Gripen, fabricados pela sueca Saab, e os F-18, da americana Boeing. O negócio é atualmente uma das maiores compras militares do mundo, com valores que chegam a US$ 12 bilhões.
Jobim participou de uma audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, onde disse que a opção francesa, embora mais cara, vem acrescida de um pacote que inclui a transferência de tecnologia e a possibilidade de abertura de novos mercados. Com esses requisitos, se adequaria à Estratégia Nacional de Defesa (Enade), elaborada durante sua gestão na pasta.
"Vou examinar a partir da relação entre o preço e as vantagens da política estratégica, sempre levando em consideração o Enade. O que é melhor para Brasil? Pagar mais e ter autonomia e capacidade tecnológica ou pagar menos sem tecnologia e capacitação?", perguntou. Disse ainda que "não somos compradores de avião, somos compradores de um pacote". Esse, segundo ele, envolve a possibilidade de abertura de mercado, por exemplo, para os jatos de transporte militar KC-390. "Quero que esse avião entre na Europa. É uma guerra de gigantes e queremos entrar nela."
O ministro apresentará na próxima semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma exposição de motivos na qual fará a sugestão da compra de um dos três tipos de aeronaves e estabelecerá parâmetros de negociação. Sinalizou, porém, que a opção deve ser pelos franceses. "A Secretaria de Logística do ministério apontou que o Rafale seria o mais interessante para o Brasil porque é o que mais corresponde à Estratégia Nacional de Defesa."
A exposição de motivos, após passar por Lula, será remetida ao Conselho de Defesa Nacional, formado pelo vice-presidente José Alencar; pelos presidentes da Câmara e do Senado; pelos ministros da Justiça, Defesa, Relações Exteriores e Planejamento; e pelos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Uma vez aprovada pelo órgão, o presidente pode determinar o início das negociações.
No entanto, Jobim ressaltou que essa aprovação não significará automaticamente a compra, mas apenas o início da negociação.
Trata-se de um alerta aos franceses, uma vez que, segundo o ministro, a proposta final apresentada pela empresa francesa não correspondeu ao que havia sido afirmado pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. "A proposta final não corresponde à afirmação francesa. Na comparação chegamos à conclusão de que o preço total ficou reduzido em apenas 1,8% e que os 10% prometidos durante as negociações ficaram restritos apenas à parte do avião", disse.
Jobim também respondeu ao Ministério Público Federal no Distrito Federal, que instaurou um inquérito para investigar a compra de 36 aviões, sob o argumento de que os outros países ofereceram preços mais baixos ao governo brasileiro. "Recorrer ao Judiciário cabe a quem tem e a quem não tem razão. É um direito de todos."