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Em depoimento a esta coluna, Fernando Arbache defende a compra pelo Brasil do caça sueco Gripen. Como se sabe, o presidente Lula já pré-anunciou a escolha do francês Rafale, na licitação orçada em R$ 10 bilhões - preferência está sendo contestada pelo Ministério Público Federal. A terceira opção é o Boeing F/A 18 Super Hornet. O modelo americano, qualquer um sabe que é excelente - pois vem de um país que lidera a corrida espacial - mas tem contra si o fato de que os americanos não querem transferir tecnologia. Arbache é doutor em Sistemas de Informação (pela COPPE/UFRJ) e Inteligência de Mercado (pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica-ITA). É ainda professor do Alto Comando da Marinha do Brasil, nas cadeiras de Logística e Sistemas de Informação e da Fundação Getúlio Vargas.
Admite Arbache que, dos três, é o Gripen NG o único avião que necessita ser projetado antes de entrar em serviço. Trata-se da evolução do Gripen C/D que está em operação nas Forças Aéreas da Suécia, Hungria, República Tcheca e África do Sul, além de ter sido encomendado também pela Real Força Aérea Tailandesa. As outras duas aeronaves, mesmo as versões mais avançadas, como o F/A18 Super Hornet, já estão em serviço há alguns anos. O Rafale ainda não tem uma versão de nova geração.
Diz ele: "O Brasil necessita garantir a capacidade de projetar sua aeronave e o Gripen NG é o candidato que atende a este requisito, pois sua aeronave de última geração está sendo desenvolvida". Cita os benefícios tecnológicos a serem alcançados no parque produtivo do país e nas instituições de ensino, pelo projeto de desenvolvimento para a produção de caças de quinta geração: "Ao obter tais tecnologias, há a possibilidade de usá-las em diversos setores, militares ou civis, beneficiando o país em longo prazo. Um grande exemplo está relacionado com a idealização, projeto e desenvolvimento da aeronave Bandeirante, quando o ITA teve participação ativa, e beneficiou não apenas a Embraer e a Aeronáutica, mas todo parque tecnológico brasileiro, pois os conhecimentos desenvolvidos foram aplicados até mesmo a indústrias como Petrobras e Vale".
Acrescenta que a produção de uma aeronave acarreta o desenvolvimento de uma cadeia de suprimentos altamente qualificada tecnológica e logisticamente, que capacita o país entrar em mercados de produção de bens de consumo e duráveis de alta tecnologia e valor agregado, tornando o país mais competitivo no comércio mundial.
Por fim, destaca parceria que o Brasil fez com a Itália para a produção de uma aeronave. Na década de 80, ambos os países iniciaram o desenvolvimento de um caça militar de ataque, que envolvia as empresas italianas Aeritalia e Aermacchi e a brasileira Embraer, que aprendeu a projetar e construir a aeronave, passando a conhecer todos os requisitos e restrições que uma unidade deste porte possui. Com isso, a Embraer aprendeu a fazer jatos civis de passageiros, além da mais nova aeronave executiva, o Phenom. Tais jatos passaram a ser sucesso de vendas em todo o globo, trazendo bilhões de divisas em dólares ao Brasil, colocando a Embraer como a terceira maior produtora de aviões do mundo, atrás da Boeing e Airbus. Curiosamente, a Aeritalia deixou de existir e a Aermacchi produz apenas aviões de treinamento.
E conclui, em seu depoimento à coluna: "Podemos concluir que a proposta apresentada pela sueca SAAB, de inserir a indústria brasileira de aeronáutica no desenvolvimento do projeto e produção do Gripen NG, é a que mais atende aos interesses da nação. Será o terceiro salto tecnológico do parque industrial, após Xavante, AMX e finalmente o Gripen NG". Esta coluna está aberta a divulgar teses de especialistas que defendem os modelos francês e americano, embora saiba-se que, em geral, os defensores de cada modelo prefiram trabalhar diretamente junto à cúpula governamental do que debater ante a opinião pública, pois está é a norma da bilionária indústria mundial de armas.