Comissão do Senado aprova proposta em meio a crise de segurança na fronteira
Uma comissão do Senado brasileiro aprovou ontem a doação de três aviões militares para o Paraguai como parte de um acordo de cooperação militar. A doação é feita em meio a uma megaoperação no Paraguai de combate a grupos de narcotraficantes que atuam na fronteira com o Brasil.
Na segunda-feira, o senador paraguaio Robert Acevedo foi ferido num atentado atribuído por investigadores paraguaios à facção criminosa brasileira Primeiro Comando da Capital (PCC).
A doação brasileira, sugerida pelo senador Romeu Tuma, ainda deve ser votada em plenário no Senado para ser levada para a Câmara dos Deputados. Os três aviões Embraer T-27 Tucanos servem para treinamento militar e já foram vendidos para vários países latinoamericanos.
Não foi anunciado se os aviões doados seriam novos.
Armados com fuzis e usando uniformes de camuflagem, soldados do Exército paraguaio assumiram ontem o patrulhamento das ruas de Pedro Juan Caballero, cidade que, desde segunda-feira, converteu-se no epicentro de uma das maiores operações de combate aos grupos narcotraficantes que atuam na fronteira entre o Paraguai e o Brasil.
Ontem, Acevedo, que foi ferido no braço e na cabeça, deixou o hospital dizendo estar seguro de que sofrerá novos ataques. Ele insiste que o PCC é o responsável pelo atentado. "Meu trabalho contra o narcotráfico causou enormes prejuízos para os narcotraficantes, principalmente nos últimos dois anos quando grandes criminosos foram presos e quadrilhas desbaratadas", afirmou Acevedo ao Estado. "Esse foi o motivo do atentado."
A região de Amambay, cuja capital é Pedro Juan Caballero, está sob estado de exceção desde o fim de semana, juntamente com outros quatro departamentos: Alto Paraguay, Presidente Hayes, San Pedro e Concepción, todos na região centro-norte do país. A medida foi declarada inicialmente para que as forças de segurança paraguaias tivessem mais poder para combater a guerrilha Exército do Povo Paraguaio (EPP), que recentemente matou quatro pessoas em um ataque contra uma fazenda em Concepción.
O regime vigorará por 30 dias, período durante o qual liberdades constitucionais - como as de associação e de livre circulação - estarão suprimidas. O Exército também pode realizar detenções de suspeitos sem mandato de busca.
Com o estado de exceção, o presidente Fernando Lugo espera dar uma resposta aos setores que o acusam de incapacidade para enfrentar a insegurança e de ter mantido contato com líderes do EPP, quando era bispo em San Pedro.
O EPP é acusado pela Justiça local de tráfico de drogas, vários sequestros e de manter ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Impostos.
Ontem, o governo Lugo sofreu o segundo revés em sua estratégia de combate à criminalidade. O Senado adiou por mais três anos a entrada em vigor de um imposto de renda sobre pessoa física que, de acordo com o ministro da Economia, Dionisio Borba, aumentaria em US$ 30 milhões anuais a receita para a segurança pública.A primeira derrota de Lugo ocorreu ainda no fim de semana, quando o Congresso aprovou o período de 30 dias para o estado de exceção, contrariando o apelo governista por pelo menos 60 dias.
Política comum
. Lugo se encontrará com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva no dia 3, em Ponta Porã. Segundo fontes dos governo paraguaio, um dos objetivos da reunião é criar uma política comum de segurança fronteiriça contra o narcotráfico."Esse tema se impôs depois do ataque violento que teve como alvo o senador Acevedo", afirmou o ex-chanceler do Paraguai e atual assessor presidencial, Hamed Franco.