Carlos Larreátegui - O Globo
O acordo de cooperação militar subscrito entre o Brasil e os Estados Unidos representa uma dura bofetada nos países da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba, a organização capitaneada pela Venezuela e integrada por Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua, Dominica, San Vicente e Granadinas, Antigua e Barbuda).
É, também, um sério revés para a nascente União de Nações Sul-Americanas (Unasul, criada pelo Brasil com o objetivo de um dia constituir uma zona livre de comércio na América do Sul).
Embora o Itamaraty tenha procurado baixar o tom da repercussão, assinalando tratar-se de um mero acordo de "cooperação e diálogo" e que, de nenhuma forma, poderia ser comparado ao controvertido convênio entre Bogotá e Washington, esta aproximação provocará profundas fissuras na Unasul.
Isso na mesma época em que os Estados Unidos redobram suas ações diplomáticas para fortalecer seus laços militares com aliados como Peru, Chile e Colômbia. O isolamento dos países da Alba vai se tornando patético.
Em julho de 2009, Colômbia e os EUA subscreveram um acordo militar que desatou uma tormenta sem precedentes no hemisfério. "Têm planos para nos invadir (EUA)", declarou Hugo Chávez.
E o ministro de Segurança do Equador, Miguel Carvajal, disse que não se podia descartar "uma escalada militar entre Colômbia e Equador".
Os discursos anti-imperialistas dos anos 60 ressoaram com força entre consultas e protestos no continente. A Venezuela procurou atiçar o fogo interrompendo até as trocas comerciais com a Colômbia e congelando as relações com seu vizinho.
O acordo aceito pelo Brasil prevê, entre outras coisas, a cooperação em segurança tecnológica, apoio logístico, pesquisa e parâmetros para a compra e venda de arsenal militar. Não há dúvida de que este país, fiel à sua tradição pragmática em política exterior, subscreveu o acordo com a intenção de que sua crescente indústria militar penetre no gigantesco mercado norte-americano; empresas como Embraer poderiam estruturar negócios sem precedentes com o Departamento de Defesa dos EUA. Por tudo isso, fontes do Pentágono disseram que se trata de "algo enorme" que os Estados Unidos vinham buscando há muito e que estreitará as relações militares de maneira significativa.
É verdade que o acordo militar assinado pelo Brasil, ao contrário do feito por Bogotá e Washington, não contempla a utilização de bases nem a presença permanente de pessoal militar em seu território. Há que anotar, no entanto, que os dois acordos militares são um "Defense Cooperation Agreement" (DCA), muito similares na sua natureza e conceito. Com isto, o Brasil deixou os países da Alba sem chão.