A primeira coisa que se nota ao observar Paulo Izaias de Macedo Filho, 77 anos, é o orgulho no olhar. Um brilho vitorioso de veterano das Forças Armadas, que carrega nos olhos e na medalha presa à sua boina azul. "Sou vencedor em tudo o que faço e quando entro em qualquer competição é para ganhar. Meu destino é voar alto", diz. E a paixão eterna do veterano são seus voos. O coronel reformado do Exército já foi paraquedista e salta de paraquedas anualmente para matar a saudade e se sentir mais vivo.
Nascido em São José de Mipibu, Rio Grande do Norte, Paulo sempre teve admiração pelas Forças Armadas e foi influenciado pelo cunhado, também militar, a seguir esse rumo. "Desde pequeno achava muito bonita e nobre a vida dos militares. Com a influência do meu cunhado, descobri que era essa a minha vocação", diz.
Decidido a realizar seu sonho, Paulo se matriculou na Escola Preparatória de Cadetes de Fortaleza, em 1950. Mas foi somente em 1956 que saltou de paraquedas pela primeira vez na Academia Militar dos Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. "Com o passar do tempo, no Exército, fui começando a ter preferência pelas operações mais complexas e difíceis. O paraquedismo foi o que mais me desafiou", conta.
De acordo com o veterano, quando se está no ar, não se tem tempo para sentir medo. "A emoção tem de ser domada. Obtemos esse estado por meio de um intenso treinamento físico e psicológico
Além disso, temos muitas coisas a preparar antes do salto, de forma que passa tudo muito rápido. Quando saltamos, já temos tudo em mente. "Estamos preparados", diz.
A vida nas alturas pode não causar medo, mas Paulo não esquece o grande susto que viveu no campo de Gramacho, no Rio de Janeiro. Ao saltar do avião e contar e fazer a contagem regressiva, o paraquedas não abriu. "É nessas horas que temos de ter o pensamento relâmpago. Nem pensei, só puxei o punho do paraquedas reserva e ele abriu", diz. Foram os poucos segundos de maior tensão na vida de Paulo. "Senti um alívio inexplicável ao tocar os pés no chão. É por acidentes como esse que não salto de olhos fechados.
Tenho que ver bem o punho do paraquedas reserva", explica. Paulo não deixou a situação difícil interferir na vontade de voar. Ele tentou convencer até a mãe, que morria de receio de ver o filho saltando, a se acostumar com a ideia. "Ela me pedia pra não contar quando fosse saltar, para que não se preocupasse", conta. Mas, para sua alegria, o paraquedista foi surpreendido com a presença materna em um de seus saltos. "Não sei o que ela estava pensando, mas disse que queria me ver. Cruzei as pernas e até joguei talco lá de cima para ela me identificar", diverte-se.
A frequência dos saltos pode ter diminuído, mas Paulo encontra motivação no carinho dado pelos nove filhos e quatro netos e nas lembranças das incontáveis homenagens que lhe foram feitas. A homenagem da qual o veterano mais se orgulha é a boina azul que descansa na parede de sua casa. O objeto é dado por meio de um concurso entre militares e os qualifica para participar de tropas que servem nas Forças de Paz da ONU para a resolução de conflitos internacionais.
"O futuro pede lembranças felizes, e nada melhor do que a alegria da sensação de missão cumprida", afirma.