General de Ex R1- CARLOS ALBERTO PINTO SILVA -
ex-comandante de Operações Terrestres (COTer),
do Comando Militar do Sul, e do Comando Militar do Oeste
ex-comandante de Operações Terrestres (COTer),
do Comando Militar do Sul, e do Comando Militar do Oeste
A experiência histórica mostra quanto maior o alcance espacial geopolítico, geoeconômico e geoestratégico de um Estado, mais poderoso deve se apresentar o seu braço armado.
O Brasil se mostra indeciso ao tentar participar da cena política internacional como novo ator global, parece não saber o que quer e, mesmo impelido por seu potencial, não manifesta uma vontade política continuada de exercer o Poder de acordo com seu alcance espacial geoestratégico e a sua estatura política e econômica.
O Brasil, como Potência Regional, é líder e protagonista inconteste na America Latina. Na política e na economia já atingiu uma influencia global. Há necessidade, portanto, de não perder oportunidades, antecipando e avaliando os acontecimentos, e fugindo da rotina antiamericana e terceiro mundista adotada por países, administrados por uma esquerda retrógrada, da America do Sul e Central, o que pode levar o governo a perder o senso de julgamento e não ser capaz de entender a importância e a prioridade nas tomadas de decisão visando à conquista de objetivos que representem os interesses vitais do Estado Brasileiro.
A oportunidade para o Brasil assumir suas responsabilidades de Média Potência, ou Superpotência Emergente do Século XXI, vem acompanhada de desafios políticos, econômicos e, principalmente, de defesa, e esses desafios aumentam de forma surpreendente, como nos mostraram a Conferência de Copenhague sobre Mudanças Climáticas e a catástrofe no Haiti, e nos assinalam as Questões Ecológicas e as necessidades de água potável no mundo atual.
O rastro espacial geoestratégico, geopolítico e geoeconômico deixado pelo Brasil passa por uma grande transformação, o país precisa de recursos, mercados, energia, oportunidades, idéias e informações de todo o globo, e não apenas de seus vizinhos da America do Sul. É a combinação dessas necessidades e a relevância das relações políticas com demais atores globais é que definirá o alcance espacial geoestratégico do Brasil.
Um ponto fundamental para o Brasil esta na manutenção da hegemonia na America Latina, na sua capacidade de exercer poder no seu entorno e assumir, sem arrogância ou prepotência, seu papel de ator global, sem esperar a conjuntura, mas moldando a conjuntura de maneira que ela seja favorável aos interesses nacionais, e não permitir que se configure alguma coisa que o ameace Política, Econômica, ou Militarmente.
O Brasil, portanto, no campo político e econômico já exerce com relevância seu poder coordenador num espaço maior que o continente que lhe serve de base territorial, sua força coordenadora tem dimensão mundial, falta, porém, capacidade ao Poder Militar para respaldar as decisões do Estado brasileiro como ator global.
A política das nações no Século XXI deverá fundamentar-se prioritariamente em uma estratégia de desenvolvimento (Expressões, econômica, científico-tecnológico, psicossocial) e na justiça social, como meio legítimo de conquistar os objetivos nacionais, contudo, o Poder Militar de um Estado é função biunívoca das outras quatro expressões do Poder Nacional, vive para elas e na sua direta dependência, e deve estar sempre em condições de ser empregado para a conquista dos objetivos nacionais.
A Defesa de um país se tornou, portanto, um assunto de grande interesse econômico e social, e um problema político dos mais graves, envolvendo a vontade dos homens, dos povos e a capacidade do Estado de exercer o poder, inclusive o militar, para obter o sucesso.
As fronteiras físicas e geográficas entre Estados se tornaram inócuas considerando que os novos paradigmas do poder não tem materialidade, não são tangíveis.
O Estado deve agir sobre múltiplas vontades, dispõe de múltiplas forças e deve lhes ordenar ações múltiplas. Ele deverá sintetizar, dentro do possível, a sua estratégia nacional (Desenvolvimento e Defesa) em diretrizes, que nortearão a coordenação das expressões do seu Poder Nacional, velando para que os efeitos se somem nas suas diversas modalidades de emprego, considerando ser o poder nacional indivisível.
Os estados continuam sendo a única garantia de defesa dos seus cidadãos e quando falham a sua legitimidade é afetada e surgem ciclos de violência. As Forcas Armadas do no Século XXI deverão, também, ser instrumentos políticos com objetivo de controlar e evitar a violência organizada no território dos seus Estados e capazes de apoiar esse controle auxiliando nações amigas.
A atual conjuntura política, econômica e de defesa, o rastro geoestratégico, geopolítico e geoeconômico deixado pelo Brasil, fez crescer o seu alcance espacial geoestratégico, trazendo ao Estado Brasileiro a necessidade de exercer poder nas seguintes áreas: America do Sul; África Atlântica, do Marrocos a Cidade do Cabo na África do Sul; Caribe; America Central; o Oceano Atlântico do Trópico de Câncer para o Sul; e a Antártida.
Os planejamentos da Defesa devem acompanhar no tempo a evolução política, econômica e social do País, de maneira a manter o poderio militar nacional no horizonte curto compatível com o status de Ator Global, atingido pelo Brasil na cena internacional.
Considerando que o status alcançado por um Estado no sistema internacional se baseia em seus índices nos diversos campos do poder, a capacidade bélica constitui peça fundamental na construção do “espaço geopolítico, geoeconômica, e geoestratégico” do Brasil.
Nesse contexto, faz-se necessário a apresentação dos seguintes questionamentos:
Qual a percepção da política nacional no que se refere ao atual posicionamento do Poder Militar do Brasil no âmbito internacional?
Onde está o Poder Militar do País hoje? Qual a prioridade estabelecida? O Brasil já se considera a potência regional sul-americana? O Brasil pretende ser reconhecido como potência regional não apenas no âmbito da América do Sul, mas atingindo os níveis alcançados pelas demais potências regionais mundiais? O País deseja prosseguir sua evolução e se firmar como média potência ou como uma superpotência emergente?
Esta o Poder Militar brasileiro, hoje, adequadamente ajustado a estatura política e econômica e ao alcance espacial geoestratégico do Brasil?
Quais os prazos visualizados pelo Poder Político nacional para que o Poder Militar alcance os patamares desejados?
Dessas considerações e constatações evidencia-se que a oportunidade de o Brasil atuar como um Ator Global, desafio imposto à nação pelo seu desenvolvimento, não pode submeter-se ao atraso do planejamento de longo prazo, devido à falta de visão, ambição e vontade de seus líderes políticos, sendo, consequentemente, necessário ajustar já, no curto prazo, o seu Poder Militar à sua estatura política e econômica e ao seu alcance espacial geoestratégico.