Projeto está condicionado à escolha do caça Gripen pela Força Aérea Brasileira
Marcelo Cabral - Brasil Econômico
São Bernardo do Campo,município na região do ABC paulista, poderá ganhar nos próximos anos um sotaque cada vez mais nórdico. Sede da fabricante caminhões Scania, a cidade foi escolhida pela também sueca Saab como local de uma nova fábrica de aeronaves, caso o seu caça Gripen NG seja o vencedor da concorrência aberta pela Força Aérea Brasileira (FAB) para a compra de jatos de combate - um negócio que pode chegar à casa dos US$ 10 bilhões. O anúncio do fábrica foi feito pelo presidente mundial da Saab, Ake Svensson, em entrevista ao . Parte da diretoria da empresa esteve ontem em São Paulo participando de um encontro empresarial Brasil-Suécia na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). "Não é só uma fábrica amais. É um projeto que inclui escolas técnicas, novos empregos, incubadoras de empresas. Vai gerar desenvolvimento para toda a região", reforçou Bengt Janer, diretor da unidade brasileira da Saab. Já segundo Svensson, o preço do aparelho sueco, mais baixo que os demais concorrentes, é um fator decisivo para viabilizar a fábrica. "Você ganha escala.
Quanto mais produz, maior é a vantagem em termos de preço", explicou. O acordo sobre a fábrica foi fechado após uma visita à Suécia feita na última semana pelo prefeito local, Luiz Marinho (PT-SP), exministro do Trabalho e da Previdência Social do governo Lula.
A proposta sueca passa agora a prever que, caso o Gripen triunfe sobre o Rafale francês - o atual favorito da disputa - e o F/A-18 Super Hornet americano, parte dos sistemas do aparelho sejam fabricados em São Bernardo, enquanto a brasileira Embraer, sediada em São José dos Campos (SP), ficaria responsável pelos demais componentes e pela montagem da estrutura. O grau de nacionalização do aparelho ficaria em torno de 40% dos sistemas e de 80% da produção. Trata-se de um grau bastante superior ao que foi atingido, por exemplo, no caso do jato de ataque leve AMX, feito em conjunto pela Embraer e por empresas italianas no início dos anos 1980. Nesse caso, a participação nacional ficou em 30% dos dois quesitos. "Aqui no Brasil existe uma situação única, pois é o único país que está comprando aviões militares que já possui uma indústria nativa aeroespacial forte. Podemos juntar a experiência da Embraer no setor civil e nosso conhecimento do segmento militar. A combinação é perfeita", explicou Svensson. O presidente da Saab relembrou as parcerias já realizadas entre a indústria do país escandinavo e a Embraer - como no caso do avião de patrulha ERJ- 145, que usa um radar sueco instalado sobre uma estrutura brasileira - e relembrou a possibilidade da venda de unidades do futuro cargueiro KC-390 do Brasil para a Flygvapnet, a Força Aérea Sueca, que precisará renovar sua frota desse segmento nos próximos anos.
Negócio da Índia
A nova unidade ocupa um papel importante nos planos da Saab de vender o Gripen para novos mercados. A ideia é que os aparelhos fabricados no Brasil atendam não só a demanda da FAB (36 unidades a curto prazo, com possibilidade de superar 120 nos próximos anos) como a indiana. A exemplo do país, a Índia realiza uma concorrência para equipar sua Força Aérea - onde estão lado a lado os mesmos aparelhos que disputam os céus brasileiros - para a compra de 126 caças só no primeiro lote - um dos maiores programas militares domundo atualmente. "Se e quando a Saab for escolhida pelo Brasil, iniciaremos imediatamente um esforço conjunto no caso da concorrência da Índia", disse Svensson. Os países também fariam uma campanha conjunta de venda nos demais mercados globais. Segundo Janer, a estimativa é que nos próximos 20 anos o faturamento potencial para o Gripen atinja a casa de US$ 40 bilhões.
Para o principal executivo da Saab, o fato da versão NG do Gripen ainda estar limitada a um avião demonstrador de tecnologia não é um problema, como apontam os concorrentes, mas justamente o ponto forte da proposta: "As indústrias sueca e brasileira poderão aprender juntas a fazer o aparelho. Procuramos por um parceiro, e não por umcliente".
PRESSÃO SUECA
R$ 10 bi
é quanto pode ser movimentado em volume de recursos com a compra do caça Gripen pela Força Aérea Brasileira, segundo estima a Saab.NACIONALIZAÇÃO
80%
é o grau de nacionalização de produção proposta pela Saab. Além disso, haveria a tropicalização de 40% dos sistemas do Gripen.Versão mais brasileira do Gripen não é comentada
Os representantes da Saab não quiseram comentar sobre a proposta feita a ela no último final de semana por um consórcio de empresas brasileiras do setor, para que a Saab aceitasse um projeto de ser contratada diretamente pela Embraer e não pelo governo - o que poderia gerar uma versão "brasileira" do caça, que receberia até um nome nacional. "Sobre esse assunto ainda não existe nada", limitou-se a dizer o diretor da empresa, Bengt Janer. A empresa afirma não estar preocupada com a preferência pelo aparelho francês já manifestada publicamente pela cúpula do governo brasileiro. Seguidas vezes, o presidente Lula e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmaram que a possibilidade de uma aliança estratégica com a França pesa mais do que o custo mais elevado do Rafale. Svensson disse achar que "não seria sábio colocar todos os ovos na mesma cesta". "Por que, afinal, o Brasil não pode ter mais de um parceiro estratégico?", questiona. "Continuo achando que nossa proposta é a mais consistente em termos de desenvolvimento conjunto de tecnologia". A expectativa é que o resultado da concorrência seja anunciado em abril, logo após a avaliação técnica e jurídica .