Durante visita do casal real da Suécia a Brasília, Lula diz que conta ficará para o sucessor
Isabel Fleck - Correio Braziliense
Após ouvir o rei da Suécia, Carl XVI Gustaf, reafirmar, durante encontro no Itamaraty, as vantagens da proposta do avião Gripen NG, que o país tenta vender ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que ainda não tomou uma decisão sobre a compra dos caças. Lula disse ainda que, por se tratar de um tema estratégico e por envolver uma grande quantia de dinheiro, uma decisão como essa não pode ficar "à mercê de especulação política" em um ano eleitoral. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, que também esteve no almoço oferecido à realeza sueca, esclareceu que ainda está esperando um documento da Suécia para finalizar o seu relatório, que apontará um escolhido, e enviá-lo ao presidente. Lula, por sua vez, afirmou que convocará o Conselho de Defesa antes de anunciar a proposta vencedora.
"Eu tenho apenas que ter um cuidado necessário, porque nós estamos em um ano atípico, que é um ano eleitoral. É preciso ter muito cuidado, muito bom senso. Nós queremos conversar com todos os setores da sociedade", disse Lula, acrescentando que só depois a decisão será tomada, "sem nenhum nervosismo ou trauma". O presidente ainda garantiu que terá mais "cuidado e responsabilidade" porque a compra não será paga no seu governo.
"Cada um vai falando, a gente vai aprendendo, vai vendo, quem sabe os preços vão caindo e, quem sabe, as coisas vão melhorando", disse. "De qualquer forma, todo mundo já sabe o que nós queremos: ter tecnologia, fabricar o avião no Brasil e que o Brasil seja, inclusive, exportador desses aviões." Em seu discurso, no entanto, o rei Carl Gustaf se limitou a dizer que a delegação estava ansiosa "com uma possível cooperação entre os dois países no campo da aeronáutica".
Já se passaram mais de seis meses desde que Lula anunciou, ao lado do colega francês, Nicolas Sarkozy, que começaria a negociar a compra dos caças Rafale — os franceses disputam com o Gripen NG e com o norte-americano F-18 Super Hornet a concorrência FX-2 da Força Aérea Brasileira (FAB). A antecipação do presidente gerou um mal-estar com a Aeronáutica e o governo recuou, aceitando novas ofertas de todos os três concorrentes. Ainda não há prazo para que a decisão seja anunciada.
Imprevisível
Antes de o rei Carl conversar com o presidente Lula sobre os caças, o presidente executivo da Saab (que participa, com o Gripen NG, da concorrência), Ake Svensson, disse que, por se tratar de uma decisão política, é "muito difícil prever o resultado". O executivo afirmou que o caça sueco ficou em primeiro lugar no relatório inicial da FAB, mas reconheceu que isso pode não ser suficiente para garantir o negócio.
Além da concorrência FX-2, o rei, que veio ao Brasil acompanhado da rainha Silvia, de dois ministros e de uma delegação com 40 industriais, assinou a criação de um Conselho Empresarial entre os dois países. No início da manhã, o casal real foi recebido no Congresso(1) pelos presidentes do Senado, José Sarney, e da Câmara, Michel Temer, e no Supremo Tribunal Federal (STF), pelo ministro Gilmar Mendes. À tarde, os visitantes participaram de um encontro, no Ministério da Justiça, com lideranças indígenas. Hoje, seguem para São Paulo e São José dos Campos, onde visitarão a sede da Embraer. No fim de semana, o casal real fará uma viagem ao Amazonas.
1 - Susto sueco
Enquanto o rei e a rainha da Suécia eram recebidos no Salão Nobre do Congresso pelos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, um protesto de estudantes do lado de fora chamou a atenção da delegação e da imprensa sueca. Por um momento, os visitantes acharam que a manifestação, que pedia a destinação de 50% dos recursos do fundo do pré-sal para a educação, poderia ter alguma relação com a presença dos monarcas em Brasília. Como o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), se limitou a dizer que a manifestação era uma "demonstração da democracia brasileira", a dúvida sobre uma possível associação ficou no ar.