Declarações controversas de um militar americano de alta patente – o general da reserva John
Sheehan, dos marines (fuzileiros navais), ex-comandante da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(Otan) – provocaram indignação na Holanda. Ele disse que as forças armadas holandesas não teriam
conseguido impedir o massacre de Srebrenica, em 1995, em parte por causa da presença de soldados
gays entre seus homens.
O polêmico ponto de vista foi exposto por Sheehan na quinta-feira, no Congresso dos EUA, em
audiência sobre a questão de soldados gays poderem servir abertamente no exército americano. Em
1995, durante a Guerra da Bósnia, forças servo-bósnias comandadas pelo general Ratko Mladic
tomaram o controle de Srebrenica e massacraram mais de 7 mil homens e meninos muçulmanos. O
massacre, a maior matança na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945), foi classificado de
genocídio pela Corte Internacional de Justiça.
No momento do massacre, a região estava sobre proteção de tropas holandesas. Sob ordens da Organização das Nações Unidas (ONU), tinham como missão proteger a cidade de possíveis ataques sérvios. Segundo relatos sobre a audiência de Sheehan no Senado, o general afirmou que o fracasso em Srebrenica está relacionado ao esforço pós-Guerra Fria de nações europeias de tornar mais "liberais" as forças armadas, permitindo, entre outras coisas, que gays seguissem a carreira militar.
– O batalhão não tinha força suficiente, a liderança era fraca, e os sérvios entraram na cidade, algemaram os soldados a postes, marcharam levando os muçulmanos e os executaram – disse o general.
Em um comunicado emitido ontem, o Ministério de Defesa holandês classificou as alegações de Sheehan de "absurdas". Renee Jones-Bos, embaixadora da Holanda nos EUA, declarou em nota que discordava completamente da declaração da Sheehan – e lembrou que, nos relatórios e investigações sobre o massacre de Srebrenica, não havia provas das alegações.
– Estou orgulhosa do fato de gays e lésbicas servirem há décadas nas forças armadas holandesas, como é o caso atualmente no Afeganistão – acrescentou Renee.