Chefes acham que tanto Serra quanto Dilma não são próximos das Forças Armadas nem sensíveis aos problemas da Defesa
Tânia Monteiro, BRASÍLIA - O Estadão de S.Paulo
Serra ou Dilma, Dilma ou Serra. As Forças Armadas alimentam dúvidas sobre os dois candidatos e admitem que estão diante de "uma escolha de Sofia". Ao longo de três semanas, o Estado ouviu chefes militares da ativa e da reserva sobre ambos e colecionou um rosário de queixas e temores.
A maioria avalia que nem Dilma nem Serra são próximos das Forças Armadas e sensíveis aos problemas da Defesa. Os nomes do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PMDB-GO), aparecem como alternativas mais palatáveis.
Opções à parte, militares torcem para que, quem quer que venha a ser eleito, o futuro ministro da Defesa tenha "capacidade de liderança junto ao Planalto", e continue o trabalho de Nelson Jobim, que consideram "o primeiro ministro de verdade da Defesa".
Condecoração.
O governador paulista, ainda que discretamente, articula aproximação com os militares. Em outubro passado, Serra procurou o presidente do Clube Militar, general Gilberto Figueiredo.Apesar de estar na reserva, o general traduz o pensamento do pessoal da ativa, que não pode se manifestar. Ficaram de acertar uma data para o tucano dar palestra para os militares.
Na semana retrasada, Serra protagonizou lance de aproximação. Com ajuda do amigo Jobim, os comandantes das três Forças e chefes do Comando Militar do Sudeste, do 8.º Distrito Naval e do 4.º Comar foram receber a Ordem do Ipiranga. Serra anunciou que vai estudar a Estratégia Nacional de Defesa - política para a administração das Forças Armadas - e fez elogios aos militares.
Há preocupação com a fama do governador de não considerar "prioritários" os gastos militares e ser crítico da paridade entre os soldos da ativa e da reserva. A caserna se diz "traumatizada" com a gestão de Serra como ministro do Planejamento de Fernando Henrique Cardoso. A percepção dos militares é de que ele não gosta de homem de farda, militares, carteiros ou mata-mosquitos.
"Não é Lula". No caso da ministra, repetem uma frase: "Dilma não é Lula." O temor, dizem, é que, sem a popularidade e a experiência de negociação de Lula, ela fique "à mercê dos revanchistas", olhando "o retrovisor".
Os militares falam em "mágoa" por causa do comportamento dela na discussão do Programa Nacional de Direitos Humanos. Dizem que Dilma foi "omissa", evitando confrontar "os amigos" do tempo da luta armada. Apesar das ressalvas, dizem que foi graças às obras do PAC, contratadas com as Forças, que a Engenharia do Exército foi "ressuscitada e modernizada". Pragmáticos, afirmam que Exército, Marinha e Aeronáutica podem estar "mais seguros" com Dilma pelo fato de, se eleita, ficar "comprometida" com o programa de reequipamento da Defesa iniciado no governo do presidente Lula.