Alistamento no serviço militar é obrigatório no país, mas 95% dos recrutados são voluntários
IURI DE CASTRO TÔRRES
DA REPORTAGEM LOCAL - Folha de SP
Até 30 de abril, em todo o país, cerca de 1,6 milhão de jovens que completam 18 anos em 2010 terão de se alistar nas Forças Armadas do Brasil.
O ritual, obrigatório por lei, já está no inconsciente coletivo dos garotos que se aproximam da maioridade.
Histórias de gente que serviu sem vontade, o exame médico em que todos ficam pelados e o tio que conhece alguém no Exército para "dar um jeitinho" são parte da cultura jovem masculina há muito tempo.
Mitos e verdades à parte, não é preciso entrar em desespero por ter de servir.
Atualmente, a obrigatoriedade é bastante relativa, já que, segundo o Ministério da Defesa, 95% dos convocados são voluntários, ou seja, na seleção, pedem para servir.
"Como há funções com aptidões específicas, temos de chamar jovens que pedem para não servir, mas que preenchem bem essas exigências. Mas conseguimos completar a maioria das vagas com os voluntários", diz Eduardo Hamaoka, major responsável pela seção de oficiais temporários do Exército na região Sudeste.
É o caso de André Lima, 18, que o Folhateen encontrou no alistamento da Junta Militar da Vila Mariana, em São Paulo.
"O Exército valoriza boa condição física e, como sou atleta, acredito que tenho boas chances", diz Lima, que é corredor de longas distâncias.
Felipe da Silva, 17, quer seguir os passos do irmão, que está no Exército há cinco anos. "É uma carreira boa, que ensina disciplina", afirma.
O pai de Roberto Benedetto, 17, foi alpinista no Exército da Itália, mas o filho não tem vontade de seguir seus passos, pois prefere continuar estudando.
"O serviço militar deveria ser optativo", diz Benedetto, que quer estudar medicina.
"É um diferencial na vida dos recrutas. Aprende-se disciplina, educação, camaradagem e trabalho em equipe, coisas que não estão à venda no mercado", defende o major Hamaoka.
A lei do serviço militar foi promulgada em 1964, mas a obrigatoriedade do alistamento existe desde as capitanias hereditárias, no século 16.
Quem não se alista fica em débito com a lei. Michel Reich, 26, por exemplo, mora na Bélgica há oito anos e só foi regularizar sua situação recentemente, pagando multa.
Rotina pesada
Apesar de não ser mais uma opção de carreira fixa, pois os jovens têm tempo máximo de permanência, o serviço ainda atrai quem quer melhorar de vida, como David Marcondes, 19, que fará cursos técnicos enquanto serve.
A Folha visitou o oitavo Batalhão de Polícia do Exército, próximo ao parque Ibirapuera, em São Paulo.
No dia, a atividade era a "menina dos olhos da corporação", segundo o capitão Rafael Estral - aprender a manusear corretamente um fuzil.
Durante quatro semanas, os recrutas ficam em regime de internato: acordam às 6h, arrumam o alojamento, fazem o treinamento físico-militar e frequentam aulas. O "dia" termina às 21h.