Os legisladores alemães, ao iniciar ontem, em Berlim, quatro dias de debates sobre o orçamento, estão se preparando para cortar 1,5%, ou € 450 milhões (US$ 617 milhões) de seus gastos com defesa neste ano, segundo documentos parlamentares.
Isso inclui € 100 milhões a menos para o avião A400M, da EADS (European Aeronautic, Defence and Space), e cortes de verbas para o helicóptero NH90, fabricado por um grupo que compreende a Eurocopter, subsidiária da EADS, e a AgustaWestland, pertencente à italiana Finmeccanica.
"Esses são projetos de prestígio", afirmou Jan Techau, analista de defesa da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em Roma. "Podemos dizer que, se os alemães não são capazes de arcar com os custos, quem poderia?" Ao mesmo tempo, a coalizão de Merkel diz que "o orçamento está tão apertado que é preciso cortar em algum lugar".
O gasto alemão com defesa, já o segundo mais baixo per capita entre os países do G-8, abaixo apenas do Japão, está sendo enxugado no mesmo momento em que Merkel está enviando 850 soldados ao Afeganistão, em resposta ao apelo do presidente Barack Obama para mobilização de tropas extras.
Os soldados no teatro de operações "terão os meios necessários à sua disposição" para a expansão do papel da Alemanha no Afeganistão, disse anteontem o Ministério da Defesa num comunicado enviado por email em resposta a perguntas, sem dar detalhes.
O plano de gastos do governo para 2010 estima o novo endividamento líquido em € 80,2 bilhões, e assim a Alemanha estaria desrespeitando uma regra do euro, num momento em que a crise grega faz centrar a atenção no déficits orçamentários na zona do euro.
Em 5 de março, os legisladores reduziram o novo endividamento líquido em € 5,6 bilhões, dizendo ter crescido o potencial de economias em programas de apoio ao mercado de trabalho, como o auxílio-desemprego, depois que, no segundo trimestre de 2009, a maior economia europeia saiu de sua mais profunda recessão desde a Segunda Guerra Mundial.
O déficit orçamentário geral aumentará para 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, quase o dobro de 3%, limite máximo na União Europeia, anunciou o Ministério das Finanças em 22 de fevereiro, antes de os legisladores terem feito cortes no orçamento defendido por Merkel. Agora que os gastos foram enxugados, para € 319,5 bilhões, o instituto econômico IWH prevê um déficit de 4,9% do PIB para este ano.
"Oitenta bilhões de euros é um nível elevado para novo endividamento líquido, o que nos dá motivo para preocupação, e que devemos baixar de forma consistente nos próximos anos", disse o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, em discurso ontem ao Parlamento. "E vamos fazê-lo."
O governo inicialmente propusera cortar 0,1% dos gastos com defesa. Entre os países do G-8, apenas o Japão classificou-se abaixo da Alemanha em gastos per capita com defesa em 2008, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisas da Paz, de Estocolmo.