Eliane Cantanhêde - Folha de SP
BRASÍLIA - Não poderia haver um "timing" pior para a notícia sobre a compra dos caças franceses do que hoje, quando Lula recebe as credenciais, nada mais, nada menos, do que do novo embaixador americano, o tão esperado Thomas Shannon. O EUA concorrem, ou concorriam, com o F-18.
Foi por isso que Lula e Jobim se reuniram na terça-feira, decidiram a favor dos Rafale e acertaram o discurso e as argumentações necessárias para a hora da divulgação oficial, mas ficaram de bico calado.
A decisão pró-Rafale vem de muito tempo, um ano ou mais, e já tinha ficado de péssimo tom anunciá-la no 7 de Setembro, deixando os pilotos da comissão técnica e os concorrentes dos EUA e da Suécia com cara de trouxas. Tanto que o governo deu meia volta, volver.
Agora, a coisa se repete, mas nos bastidores. Depois do vexame, depois dos muitos meses de trabalho da comissão e das investidas dos concorrentes, só faltava mesmo essa: Lula e Jobim decidirem e a má notícia vazar para os americanos justamente na hora da festa de chegada do embaixador.
Bem, mas nós daqui e você daí já sabemos como se resolvem, ou se tentam resolver, essas coisas: jogando a culpa na imprensa. Lula e Jobim vão ficar roucos de tanto negar, mas a verdade tarda, mas não falha. Então é só aguardar.
Até lá, Jobim, estará colocando seu talento de advogado, parlamentar e constituinte, ministro pela segunda vez e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) a serviço de uma peça política.
Uma peça para explicar por que, afinal, brigadeiros e coronéis da FAB e entendidos da Embraer preferiram o pacote sueco, que além de tudo é o mais barato, mas os políticos optaram pelo francês, além de tudo o mais caro dos três.
Quando houver clima para o anúncio oficial, a expectativa é a de que boa parte da opinião pública receba com ironia: "Não precisa explicar, eu só queria entender".