Aficionados por aviões criam no Rio empresa que já vendeu aparelhos não-tripulados até para a Força de Paz no Haiti
Alexandre Rodrigues, RIO - O Estado de SP
O desenhista industrial Gabriel Klabin passou muito tempo na infância aperfeiçoando a aerodinâmica de aviõezinhos de papel. Atirava-os da janela sempre se imaginando a bordo. Não demorou muito para, na adolescência, lançar-se ao vento de verdade de parapente e asa delta nos céus do Rio.
De volta à terra, passou a pilotar e desenhar aeromodelos, de onde tirou a futura profissão. Só que em vez de se imaginar no ar, Klabin resolveu instalar uma câmera na asa de um dos aparelhos. A brincadeira acabou em um negócio lucrativo e de interesse estratégico para o País.
Para fabricá-lo em escala industrial, os dois criaram em 2006 a empresa Santos Lab, cujo nome é uma homenagem ao pai da aviação, Santos Dumont. O carro-chefe da empresa é o Carcará, vant de 1,6 metro de envergadura que atinge até 3,5 mil metros de altitude e tem até 16 horas de autonomia. O nome foi dado pelos militares da Marinha do Brasil, que adotaram a tecnologia dos jovens para formar o primeiro pelotão de vants dos Fuzileiros Navais.
A Marinha já comprou 36 aparelhos da empresa, que, em apenas quatro anos, entrou no azul e projeta faturar entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões este ano. "Os militares foram nossos primeiros clientes e acabaram contribuindo para o desenvolvimento do Carcará desde a sua primeira geração. Já estamos na quarta", conta Klabin.
No final do ano passado, a Santos Lab venceu uma concorrência internacional das Nações Unidas para fornecer três aparelhos para a missão da força de paz no Haiti, liderada pelo Brasil. Cada aparelho com o kit que inclui o software de operação foi vendido por R$ 850 mil.
A empresa brasileira venceu similares dos Estados Unidos, Espanha e até de Israel, líder desse mercado e inspiração dos jovens empresários.
Mas a superação só foi possível por causa da inovação. Em vez da usual fibra de vidro, eles decidiram fabricar o Carcará com espuma de polipropileno, um material mais leve e maleável, que absorve impactos e permite o pouso na vertical. "Ele não amassa e não quebra", garante Klabin. O modelo brasileiro também dispensa longas pistas para a decolagem.
Buffara aposta no crescimento desse mercado e na possibilidade de exportar para países latinoamericanos.
Por isso, investe R$ 2,5 milhões numa nova fábrica em Campo Grande, que vai ficar ao lado da pista de testes da empresa. "Fizemos um teste com o Bope, da Polícia Militar do Rio. O mercado de segurança pública tem potencial. Já vendemos também para empresas, que conseguem monitorar áreas grandes, como plantações, a um custo baixo, com precisão, e sem ter um avião grande, com tripulante. É o futuro da aviação", sentencia.