Marcelo Ambrosio - Jornal do Brasil
A competição entre os três modelos de caça expõe uma divisão de conceitos clara. Enquanto os americanos da Boeing e os franceses da Dassault trabalham com uma visão de transferência de tecnologia limitada dentro de políticas estratégicas, os suecos da Saab usam um modelo aberto. Em termos técnicos, isso significa que os dois primeiros exercem todo o controle sobre os softwares dos jatos – o cerne da licitação – enquanto os nórdicos balizam a expertise na integração de subsistemas já existentes. Parece complicado, mas seria como ir a um supermercado comprar itens de diferentes fornecedores e depois criar e montar o modelo por conta própria. As peças estão à venda, mas o modo de construção é exclusivo.
– A nossa diferença, principalmente em relação ao Rafale, está no fato de termos uma estratégia horizontalizada de produção do Gripen N/G. Os franceses, por questões de estratégia, têm uma forma mais verticalizada, o que não só reduz a quantidade de fornecedores como encarece o resultado final – compara o diretor-geral da Gripen International no Brasil, Bengt Janér.
No caso do caça sueco, a participação brasileira no projeto será bastante abrangente.
– A Embraer será responsável pelo desenvolvimento de 40% dessa tecnologia de integração dos subsistemas e dividirá o marketing de vendas em licitações de todo o mundo conosco. Além disso, o Brasil irá com a Gripen ao mercado mundial como fabricante, já que 80% da aeroestrutura da aeronave serão projetados e fabricados aqui. Isso significa que um caça para a força aérea sueca terá essa parte feita em uma fábrica brasileira – acrescenta o diretor da Gripen, avaliando um potencial de vendas de 250 unidades de jatos monomotores para os próximos 15 anos. A empresa encarregada fica em São José dos Campos.
Turbinas
Bengt Janér disse não ter informações sobre o relatório da FAB, mas rebateu um dos pontos mais comentados – e criticados pelos concorrentes – no projeto do caça sueco. O jato possui uma turbina só, quando o F-18 SuperHornet e o Rafale possuem duas. Para os rivais, uma desvantagem tática na hora de serem rapidamente acionados.
Segundo o diretor, o Gripen N/G obteve um resultado importante em testes ao passar a barreira do som e chegar à velocidade de 1,2 Mach sem a necessidade de sobrequeima (afterburner), recurso que multiplica a potência tanto quanto o consumo do avião. Em situações de acionamento emergencial, e para o tipo de missão de interceptação para o qual a FAB emprega as aeronaves do esquadrão de Anápolis, tal resultado representaria uma considerável economia de custos. O jato que participou da prova estava configurado na versão ar-ar, que deve ser a mais utilizada.
– Hoje em dia, as principais ameaças que demandam investimentos em defesa aérea são assimétricas. São missões que exigem muito tempo de voo e para isso ter um custo operacional baixo é um fator vital – completa Janér. O Gripen N/G é oferecido a R$ 120 milhões a unidade, contra R$ 172 milhões do SuperHornet e R$ 240 milhões do Rafale, que teria ficado em último lugar na avaliação técnica conduzida pela Aeronáutica.