Viviane Vaz - Correio Braziliense
A notícia de que "o Brasil esnoba o caça Rafale" dominou ontem as edições dos principais jornais franceses, mas o presidente Nicolas Sarkozy preferiu não comentar as versões segundo as quais a Força Aérea Brasileira (FAB) teria fechado um relatório técnico de 30 mil páginas no qual apontaria os aviões Grippen NG (sueco) e Super Hornet (americano) como melhores opções para a renovação da defesa aérea. O governante francês, aliado estratégico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, limitou-se a responder que está "tranquilo" quanto ao resultado do processo de seleção lançado pelo governo brasileiro.
O contrato é da ordem de bilhões de dólares, para fornecer 36 aviões de combate ao Brasil. Yves Robin, diretor de relações internacionais da Dassault, fabricante do Rafale, disse ao Correio, por telefone, que a empresa mantém a expectativa "com confiança". "Nós estamos confiantes no processo de seleção e consideramos que o Rafale constitui a melhora escolha para o Brasil", ressaltou Robin, falando de Paris.
O resultado do relatório da FAB, segundo a Folha de S. Paulo, indicaria o Rafale em terceiro e último lugar. O concorrente sueco, produzido pela Saab, seria o primeiro colocado, seguido pelo caça da americana Boeing. Em entrevista ao mesmo jornal, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deixou clara sua preferência pelo Rafale. O ministro disse ainda que chamou a Aeronáutica para mudar as regras da indicação técnica, porque "a transferência de tecnologia passou a ser prioridade".
O diretor da Saab no Brasil, Bengt Janer, também está otimista quanto ao processo seletivo.
"Acreditamos que temos a melhor proposta, em todas as áreas estudadas, e nos propomos a desenvolver esse caça novo junto com a indústria brasileira, liderada pela Embraer. Um caça produzido no hemisfério sul para o mundo", disse Bengt à reportagem. "O Grippen é menor (que o Rafale), mais econômico, mais moderno e tem economia de escala maior. O custo operacional dele é imbatível, de US$ 4mil/hora. O avião francês custa cerca de US$ 14 mil/hora. Estamos falando de uma diferença de US$ 10 mil por hora de treinamento dos pilotos", argumentou. Na edição de hoje, o jornal Libération cogita que a Dassault estaria disposta a reduzir o preço do Rafale em 40%, para torná-lo mais competitivo.
Em nota à imprensa, a FAB informou que o relatório ainda não foi enviado ao Ministério da Defesa. A decisão pró-Rafale chegou a ser anunciada em setembro, em comunicado conjunto firmado pelos presidentes Lula e Sarkozy, convidado de honra para a festa do 7 de Setembro em Brasília. No entanto, o governo teve de recuar diante da repercussão negativa entre as empresas concorrentes e os militares. A decisão final cabe ao presidente Lula e, segundo o Correio apurou, deve sair antes de abril — quando Jobim deve deixar o ministério para disputar as eleições de outubro.