Roberto Godoy - O Estado de SP
A escolha do primeiro lote de novos caças de tecnologia avançada para a aviação militar brasileira está sob risco. Se a definição não sair agora, pode não sair nunca mais. A demora no cumprimento das etapas finais e a condução hesitante do governo estão expondo o processo a um desgaste que pode comprometer o trabalho técnico já realizado. De qualquer forma, o jato francês, o Rafale, segue acumulando sinais de favorito na hora incerta da decisão - que será tomada pelo presidente Lula, considerados itens estratégicos abrangentes, de importância para o País em várias áreas que não apenas a Força Aérea. O relatório técnico está concluído, mas, como enfatizou o Comando da Aeronáutica, em nota de esclarecimento, ainda não foi encaminhado ao Ministério da Defesa. Oficiais superiores comentavam ontem, em Brasília, que a versão em circulação é um texto de setembro, que não considera as propostas melhoradas dos três concorrentes ao contrato, entregues em outubro. O problema é mesmo político. O F-18 americano, o Gripen NG sueco e o Rafale, guardadas suas peculiaridades, podem cumprir a missão militar definida pela FAB. A análise precisa obedecer aos sete pontos fundamentais do programa - a questão comercial, os aspectos técnicos, o conjunto operacional, o pacote logístico, os benefícios industriais, as compensações comerciais e a transferência de tecnologias diversas - entre os quais não se prevê espaço para um ranking. O fato, porém, é que a aviação precisa de uma nova aeronave de múltiplo emprego, moderna e que permita realizar adequadamente operações aéreas de defesa e dissuasão. Essa demanda é maior que a agenda de interesses a que está subordinada.
Análise feita por Roberto Godoy, jornalista