Mauro Santayana - Jornal do Brasil
Estados Unidos estão dispostos a negociar com os talibãs, e o presidente do Afeganistão – cuja legitimidade é nenhuma, por ter sido imposto por Washington em uma fraude eleitoral – propõe uma série de condições para as conversações. Depois de mais de 1.600 baixas norte-americanas, sem contar com as das demais tropas invasoras, e de muito mais mortos entre os afegãos, os generais americanos Petraeus e McChrystal concluem pela impossibilidade de vitória pelas armas. Os aliados já pensavam assim, e se reúnem em Londres, a partir de hoje, para discutir o assunto. O presidente Obama, que concordara antes com o Pentágono, de que a vitória só seria obtida com mais soldados, enfraqueceu-se no episódio. A sua idéia era a de que, a fim de se retirar do Iraque, seria necessário aumentar a pressão no Afeganistão.
Ele não poderia ter atuado de forma diferente, já que recebera o conflito dos três presidentes que o precederam.
A guerra contra Saddam foi o grande erro estratégico do primeiro Bush. Admita-se que Washington, para garantir o suprimento de petróleo barato do Kuweit, tenha agido em defesa do emirado. Frustrada a tentativa de anexação, a diplomacia deveria ter procurado um modus vivendi com Saddam, o que não seria difícil. Bush continuou castigando o Iraque com seus bombardeios, mantidos pelo democrata Clinton, até que o outro Bush, o filho – ao acusar falsamente Saddam de envolvimento nos atentados de 11 de Setembro e de dispor de armas de destruição em massa – invadiu e ocupou o país.
O porta-voz dos talibãs, Zabiulah Mohammed, já declarou que, enquanto houver tropas estrangeiras no território muçulmano, não haverá conversações de paz. Que haja uma ou outra defecção, é provável, mas que elas signifiquem algum acordo é difícil. Seja como for, os Estados Unidos se encontram diante de outra derrota militar – e política. Seus generais entendem agora que, por mais tropas sejam enviadas para o território, não conseguirão dominar os radicais muçulmanos. A ação política poderia ter trazido resultados no passado. O sangue derramado e o dinheiro gasto ali para nada serviram.
Quando os norte-americanos deixarem o país – e o deixarão tão logo consigam – o episódio irá somar-se ao passivo da história da grande república, com seus crimes contra a humanidade, junto às derrotas, na Coreia, em Cuba e no Vietnã, entre outras. Foram guerras inúteis. Até lá, os afegãos e os invasores continuarão a morrer. Apesar das declarações em favor das soluções políticas, os americanos continuam defendendo o aumento das tropas estrangeiras, como meio de pressão para que os guerrilheiros talibãs desertem por dinheiro. Quanto mais tropas houver, mais resistência haverá.