Tânia Monteiro e
Denise Chrispim Marin, BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Denise Chrispim Marin, BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Avalizada em 2008 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a exportação de mísseis fabricados pela companhia brasileira Mectron ao Paquistão poderá se transformar em nova dor de cabeça para o governo. A empresa estaria em negociações com Islamabad para a venda de mais um lote desse armamento ao Paquistão, país que tem como inimigo e alvo a Índia, parceira estratégica do Brasil e sócia em dois foros emergentes.
"Ainda não tenho notícias desse negócio. Não recebemos nenhum pedido de autorização. Mas, se aparecer, cada dia com a sua agonia", afirmou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, após confirmar a transação entre a Mectron e o Paquistão no ano passado.
A venda de um lote de cem mísseis, em 2008, teria totalizado 85 milhões, segundo a Folha de S. Paulo. Mas os dados desse comércio foram omitidos das estatísticas oficiais brasileiras por se tratar de um bem altamente sensível, como explicou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Como se trata de uma exportação controlada pelo governo, o processo foi submetido à avaliação do Itamaraty, que desaconselhou o negócio por seu potencial de criar problemas bilaterais entre o Brasil e a Índia.
O Ministério da Defesa, a outra área do governo que deve se manifestar sobre o comércio exterior de armas e munições, deu seu aval. Diante do impasse entre os dois ministérios, a questão foi levada ao presidente Lula, que liberou o embarque.
Jobim justificou ontem que, como o contrato já havia sido firmado e submetido à Câmara de Comércio Exterior, teria de ser honrado. Na ocasião, as reclamações encaminhadas pela Índia ao Brasil acabaram contornadas com o argumento de que Nova Délhi também poderia se valer do Brasil como provedor de mísseis e os EUA fornecem armas para Índia e Paquistão. Em 2008, as reclamações não chegaram a repercutir no andamento dos projetos bilaterais nem no encaminhamento do Foro Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e do Foro Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), duas das frentes de convergência de economias em desenvolvimento.