Virgínia Silveira, para o Valor, de São José dos Campos
O presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Walter Bartels, disse que o processo efetivo de absorção de tecnologia ocorre através da realização da inovação ou do desenvolvimento tecnológico dentro da indústria. "É difícil transferir tecnologia de quem criou para quem vai produzir. Como regra geral, a tecnologia sensível ou para elevação do nível militar, não se transfere, não se adquire, incorpora-se."
Para o executivo, a compra de caças supersônicos de empresas estrangeiras é necessária neste momento, pelas necessidades de curto prazo da FAB, mas o país necessita possuir, obrigatoriamente, uma capacidade real de dissuasão e isso só será possível se os respectivos meios forem de domínio tecnológico brasileiro, desenvolvidos e produzidos no país. "A indústria aeroespacial brasileira espera que, futuramente, não sejam mais necessárias aquisições no exterior mas, em casos excepcionais, sejam feitas através de um contratante principal brasileiro como ocorre em países desenvolvidos", afirmou.
Bartels cita o caso do programa AMX, em que o Brasil levou vantagem porque pagou 30% do seu desenvolvimento e dominou 100% do avião. Entre as tecnologias resultantes desse projeto de cooperação, que o presidente da AIAB participou ativamente pela Embraer, Bartels destaca a aerodinâmica transônica, sistema de aviônica de navegação e ataque integrado, usinagem mecânica de peças complexas e comandos de voo "fly by wire", que depois foram aplicados no desenvolvimento dos jatos comerciais da Embraer.
Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), Carlos Frederico Queiroz de Aguiar, o processo de aquisição dos caças do programa F-X2 é um dos melhores dos últimos 30 anos. "O processo de hoje se baseia na experiência dos erros e dos acertos do passado e tem sido um processo de aquisição mais realista e mais adequado ao tipo de aquisição, ou seja, a de um equipamento que tem de gerar no país um efeito multiplicador de absorção de tecnologia pela base industrial de defesa do país."
Segundo Aguiar, qualquer que venha a ser a decisão, haverá grandes benefícios para a indústria nacional, graças à política de "offset" (contrapartida) que a FAB e o Ministério da Defesa vêm reafirmando desde o início do processo do F-X2. O executivo lembra que a FAB estabeleceu que 80% do offset deverá se constituir em transferência de tecnologia direta no programa. Além disso, segundo ele, os três concorrentes têm se aplicado em oferecer também trocas comerciais significativas, ou seja, compras de equipamentos no Brasil, principalmente aeronaves da Embraer.
O fato de a decisão ser política, na opinião do presidente da ABIMDE, não exclui as demais considerações inerentes ao processo. O executivo disse que os empresários envolvidos no processo estão satisfeitos com os acordos até agora firmados e que muitos já se preparam para a fase de contratação e operacional que virá logo após a decisão final. "De um modo geral percebo um clima de satisfação e de expectativa nas empresas de grande porte como também nas de médio porte".