De São José dos Campos
Considerada a parceira estratégica preferencial do Brasil pelo presidente Lula, a Dassault, finalista na concorrência para a compra de 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), propôs ao governo a transferência irrestrita de tecnologia para 67 projetos brasileiros. Segundo a Dassault, a oferta entregue ao Comando da Aeronáutica no final de outubro, cobre mais de 100% do valor do contrato de compra dos caças, estimado em US$ 4 bilhões.
A Dassault Aviation participa do programa F-X2 da FAB com o consórcio Rafale International, formado também pelas empresas francesas Snecma, do grupo Safran, e a Thales. De acordo com a empresa, o consórcio se comprometeu em fazer a montagem, no Brasil, de 30 dos 36 caças que serão comprados pelo programa F-X2, com peças fabricadas no país por empresas brasileiras. "Faremos a montagem no Brasil a partir do sétimo caça, com linha de fabricação na Embraer", afirmou um porta-voz.
Segundo ele, o consórcio espera que, pelo menos, 50% das peças do Rafale sejam produzidas no Brasil até o final da entrega dos 36 aviões previstos neste primeiro contrato, mas há a possibilidade de, no futuro, a FAB comprar até 120 caças. "Faremos não só peças pequenas, mas também partes estruturais, como as asas, que vão poder ser fabricadas pela Embraer, caso vençamos este contrato", afirmou. O presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Walter Bartels, ressalta que os novos projetos de aquisição de equipamentos de defesa devem promover a autonomia tecnológica da indústria brasileira. "O processo de transferência de tecnologia se dá quando se realiza a inovação ou o desenvolvimento tecnológico dentro da indústria". Bartels cita o caso do programa AMX, feito em cooperação com empresas e o governo italiano. "O Brasil pagou 30% do seu desenvolvimento e dominou 100% do avião".
O programa de cooperação industrial, mais o pacote de transferência de tecnologias, proposto pela Dassault, prevê a criação de três mil empregos diretos e indiretos no Brasil, por um período de 10 anos. Este número, de acordo com o executivo da empresa, poderá ser ampliado para 24 mil, com as atividades de fabricação dos caças nas indústrias do setor aeroespacial brasileiro e também da transferência de tecnologia, através da criação de inúmeros subprodutos.
A Embraer, de acordo com o executivo, será a principal empresa de cooperação do consórcio Rafale, juntamente com o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), ambos em São José dos Campos (SP). "Como fabricante Aeronáutica e integradora de sistemas, a Embraer terá total autonomia para liderar em cooperação com a indústria brasileira, as adaptações e aperfeiçoamentos futuros na aeronave Rafale e seus sistemas", afirma o Consórcio Rafale em documento.
Cooperar com a Embraer, segundo o porta voz da Dassault, vai ampliar os conhecimentos da empresa, dando a ela autonomia para realizar, de forma independente, o projeto da próxima geração de caças brasileiros. "A indústria brasileira e, especialmente a Embraer, adquiriram novas capacidades tecnológicas com o programa AMX. Com o Rafale elas poderão ir muito além do que conquistaram com o AMX", ressalta o executivo.
Como prometido pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, durante sua visita ao Brasil, no dia 7 de setembro, o consórcio Rafale reforça seu interesse em apoiar o desenvolvimento do cargueiro KC-390, da Embraer. Essa parceria poderá ser realizada através da transferência de tecnologia no campo do domínio chave e altamente sensível dos Sistemas Digitais de Controle de Vôo (DFCS). "É importante destacar que as tecnologia DFCS são dominadas por pouquíssimas empresas no mundo e desejadas por muitas", afirma o porta-voz.
A transferência de tecnologias sensíveis, que o Brasil ainda não tem o domínio, também é um dos pontos de destaque da proposta do Consórcio Rafale, segundo o porta-voz da empresa. A aprovação para transferência irrestrita de tecnologia, de acordo com o executivo, já foi oficialmente notificada ao Comando da Aeronáutica por autoridades francesas.
Entre as tecnologias consideradas essenciais oferecidas pelas empresas do consórcio Dassault estão a integração aeromecânica de armas e casulos, engenharia da estrutura do avião, software de radar e de sistema de missão, tecnologias de sistemas digitais de controle de voo, integração de motor, aplicativos de pirotecnia espacial, projetos de redes de sistemas de veículos aéreos não tripulados, entre outros. (V.S.)