Sergio Lamucci, de Estocolmo - Valor
A empresa sueca Saab aposta que ainda pode desbancar o favoritismo da francesa Dassault na disputa pela renovação da frota de caças brasileiros. Para isso oferece a participação do Brasil no desenvolvimento tecnológico conjunto do projeto Gripen NG, um preço mais baixo que o dos concorrentes e a montagem de uma linha completa de produção no país.
Esses são alguns dos principais argumentos usados pelo presidente da Saab, Ake Svensson, para tentar sensibilizar o governo brasileiro, em especial o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já deu sinais públicos de que prefere os franceses Rafale ao Gripen NG e ao F-18 Super Hornet, da americana Boeing.
Na sexta-feira, as três empresas entregaram à Força Aérea Brasileira (FAB) as versões finais de suas propostas para o programa FX-2, que envolve a compra de 36 caças.
Lula deve chegar hoje à noite a Estocolmo, onde participa amanhã da cúpula entre Brasil e União Europeia (UE). A questão da mudança climática e a resposta à crise global estarão no centro das discussões, mas o governo sueco, que ocupa a presidência da UE, vai tentar tratar do assunto com o presidente brasileiro. Na sexta-feira, porém, o porta-voz da Presidência brasileira, Marcelo Baumbach, afirmou que Lula não pretende discutir o assunto em sua visita à Suécia.
Em entrevista ontem a um grupo de jornalistas brasileiros em visita a Estocolmo, Svensson disse não ter nenhum encontro programado com Lula. "Espero poder pelo menos me apresentar a ele", afirmou ontem o executivo, que acredita ter chances na disputa, a despeito das declarações de Lula e da simpatia clara do ministro da Defesa, Nelson Jobim, pelos Rafale franceses.
Para Svensson, uma das grandes vantagens da proposta da Saab é que ela envolve, mais que a transferência de tecnologia, o seu desenvolvimento conjunto. "A Suécia não vai exportar aviões para o Brasil. Os dois países vão desenvolver o projeto do Gripen NG juntos", disse Svensson. Ele acrescentou que, pela oferta sueca, 80% da estrutura do Gripen NG será feita no Brasil, e que o país terá a liderança nas vendas dos aviões na América Latina.
Segundo Svensson, a escolha do Gripen NG seria muito positiva para a Embraer, que ganharia com o desenvolvimento tecnológico em parceria. Ele acena também com a possibilidade de o governo sueco comprar aeronaves da Embraer no futuro: o cargueiro KC-390, para transporte aéreo, e o Super Tucano, para treinamento de pilotos. O executivo considera um trunfo o fato de a Suécia não ser uma superpotência, por ser mais um sinal de que não haverá problemas para transferência de tecnologia.
Com esse pacote, que também inclui a compensação ao Brasil de 175% do valor do contrato, Svensson avalia que pode fazer o Brasil não comprar os Rafale. No dia 7 de setembro, em cerimônia com a presença do presidente francês, Nicolas Sarkozy, Lula deu a entender que já havia escolhido os caças franceses.
O governo brasileiro negou depois que o processo estivesse definido, estendendo o prazo para a apresentação das propostas finais de 21 de setembro para a sexta-feira. Ainda não há uma data final para o anúncio da decisão brasileira.