Especialistas do setor aeronáutico ressaltam vantagens tecnológicas do projeto Gripen NG
Enquanto a equipe técnica da Força Aérea Brasileira (FAB) finaliza seu relatório sobre as propostas das três concorrentes do Programa F-X2(1), para a compra de 36 caças, a expectativa sobre o resultado da concorrência só cresce em um dos setores mais interessados no acordo: a indústria aeroespacial brasileira. De olho num futuro de independência tecnológica que proporcione ao país produzir seus próprios caças supersônicos em até duas décadas, as empresas brasileiras deixam claras as preferências por uma proposta que lhes dê maior participação no desenvolvimento da aeronave.
O diretor do Departamento da Indústria de Defesa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Jairo Cândido, que presidiu as apresentações das propostas da francesa Dassault, da sueca Saab e da norte-americana Boeing para os empresários paulistas, afirma que a única tecnologia "aberta" é a apresentada pela Saab.
"Ficou claro que quem está disposto a fazer uma transferência ampla, total e irrestrita, e a trabalhar com as empresas brasileiras são os concorrentes suecos", diz Cândido.
Segundo o diretor, o projeto do Gripen NG "viabiliza uma produção nacional das 36 aeronaves e envolve a indústria nacional desde o primeiro momento no programa".
"A sensação é de que nós teremos ampla e total competência de produzir uma aeronave supersônica no Brasil ao final desse programa", avalia.
Cândido considera que a decisão técnica da FAB deve ser colocada sempre em primeiro lugar, mas pondera que é possível conciliar os interesses.
"Temos de respeitar profundamente a decisão técnica da FAB, porque ela vai decidir qual a melhor escolha para ela. Mas se o Gripen NG atende aos requisitos operacionais da FAB, do ponto de vista das empresas brasileiras esse me parece o melhor pacote", opina, destacando que a oferta inclui um "pacote de trabalho conjunto, e não apenas a transferência de algum know -how".
Aprender fazendo
Ao participar de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, há uma semana, com representantes das três concorrentes, o diretor-presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Walter Bartels, deixou transparecer que considera o Gripen NG a melhor opção para a indústria brasileira.
"O ideal é que o desenvolvimento seja feito dentro da própria indústria, porque quem vai ter a tecnologia também vai querer produzir", destacou. "É preciso fazer e aprender com os erros", acrescentou, lembrando que a indústria brasileira já conseguiu produzir uma tinta para aumentar a furtividade (invisibilidade a radares) de aeronaves. O produto rendeu quatro patentes para o país.
O diretor do Departamento da Indústria de Defesa da Fiesp lembra que, em termos de produção de componentes da aeronave, Brasil e Suécia não competem. Prova disso seriam os contratos já fechados com empresas brasileiras, como a Akaer, para a produção das estruturas intermediária e traseira do Gripen NG, das duas asas e das portas do trem de pouso.
"Isso não tem absolutamente nada a ver com a concorrência da FAB. Foi parte de uma licitação internacional, em que concorriam Brasil e Índia, e as empresas brasileiras lograram êxito e já estão trabalhando. O Gripen NG é um programa que já começou", afirma Cândido.
A declarada preferência pelo caça sueco já criou situações embaraçosas para a própria Embraer.
No fim de outubro, o vice-presidente executivo para o mercado de defesa da empresa, Orlando José Ferreira Neto, declarou à imprensa que a proposta da Saab é "a que vai assegurar ao Brasil o conhecimento e a agregação de tecnologia dentro da premissa on the job doing (aprender fazendo)".
Logo depois, a Embraer divulgou nota esclarecendo que "não participa diretamente do processo de seleção" e "não tem preferência por nenhuma das propostas encaminhadas".
1 - Resultado em novembro
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, afirmou ontem, antes da posse de José Múcio como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), que a decisão sobre a concorrência F-X2 deve ser anunciada no próximo mês. Ao ser questionado se a posição da Aeronáutica sobre a licitação internacional será conhecida em novembro, Saito respondeu: "Acredito que sim".