As preferências do governo brasileiro na compra de submarinos, já fechada, e na escolha de aviões de caça incidem em empresas com embaraços, inclusive judiciais, capazes de reflexos negativos no cumprimento, longo nos dois casos, dos contratos pelos fornecedores estrangeiros.
A inglesa BAE Systems, que está sob investigação na Inglaterra, apontada como parte ativa de grandes fraudes de corrupção em vendas para o exterior (situação citada por Clóvis Rossi na Folha de sábado), esteve referida aqui no início dos artigos sobre os negócios do armamentismo brasileiro. Ao tratar do avião cuja proposta consta ser a mais vantajosa, contra a pré-decisão voluntária de Lula pelo caro Rafale francês, o caça sueco Gripen NG foi identificado como produto do consórcio Saab-BAEVolvo.
O lobby da Saab cuidou até de levar jornalistas brasileiros para conhecer a Suécia e o avião (sabe-se que nossos jornalistas são muito capacitados para analisar aviões de combate). Mas, por algum motivo não esclarecido, a BAE e a Volvo estão sistematicamente ausentes do noticiário. Não só o proveniente dos representantes da Saab, mas também o noticiário originado no Ministério da Defesa.
A gravidade e a dimensão financeira das práticas sob investigação na Inglaterra, a par da legislação e da sempre presente luta no Parlamento, sugerem que a possível incriminação da BAE lhe crie vários problemas. E, pelo mesmo motivo, com eventuais reflexos de efeito imprevisível em negócios futuros ou em curso.
Os pequenos submarinos comprados pelo Brasil, os Scorpène que deslocam 1.700 toneladas, foram criados como projeto militar franco-espanhol. Nele se uniram a indústria espanhola Navantia e a francesa DCNS, fusão do estaleiro estatal DCN com o setor naval do conglomerado Thales, privado.
Já quando era considerada a compra brasileira de um grupo de submarinos e de tecnologia, sendo o Scorpène um dos candidatos, a DCNS apresentou na França uma ação judicial contra a Navantia, para dissolver a sociedade. Acusou a sócia de usar em um submarino só espanhol características do Scorpène, ao que a Navantia respondeu ser o novo S-80 bem maior, com deslocamento de 2.300 toneladas. Logo aparecia explicação melhor para a ação da DCNS, que reagiria à preferência dos espanhóis por dar ao S-80 o sistema de defesa produzido pela norte-americana Lockheed-Martin, em lugar do sistema fabricado por sua associada francesa. Mas uma outra interpretação começa pelo encaminhamento, feito por Nicolas Sarkozy junto a Lula, da venda de um grupo de Scorpène ao Brasil.
Detentora do correspondente a 35% na fabricação do Scorpène até o início do confronto societário, em março a Navantia já deixava clara a disposição de lutar em todas as instâncias pelo que considere direitos seus. Os submarinos comprados pelo Brasil estão, portanto, em meio a uma disputa capaz de prolongar-se para além de entendimentos preliminares com eventual inclusão de brasileiros.