Brasil também espera mudanças no acordo que permite uso de instalações militares colombianas pelos EUA
Denise Chrispim Marin e João Domingos, BRASÍLIA
O alívio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na pressão sobre a Colômbia, para que o país forneça garantias de que seu acordo militar com os Estados Unidos não ameaça a soberania dos vizinhos, deveu-se a uma aposta na mudança dos termos do acerto bilateral. O Itamaraty espera que o acordo, que prevê a presença de soldados americanos em sete bases colombianas para o combate ao narcotráfico, não sobreviva à nova política antidrogas da Casa Branca.
Finalizado há mais de três meses, o acordo ainda não foi assinado pelos presidentes colombiano, Álvaro Uribe, e americano, Barack Obama.
No final de setembro, o diretor de Políticas Nacionais de Combate às Drogas dos EUA, Gil Kerlikowske, esteve na Colômbia e falou a Uribe sobre a opção da Casa Branca por uma estratégia mais "equilibrada". Em vez de se concentrar na repressão judicial e militar, prevista no Plano Colômbia, Washington tenderia a reforçar suas políticas de redução na demanda por drogas.
Lula também adotou um tom mais moderado durante o encontro com Uribe na segunda-feira, em São Paulo, pois estaria preocupado com o prejuízo a interesses empresariais, além de temer um isolamento da Colômbia no projeto de integração da União de Nações Sul-americanas (Unasul) e em seu braço militar, o Conselho de Defesa.
O governo brasileiro diz reconhecer o direito de a Colômbia reclamar da falta de assistência dos países vizinhos no combate ao narcotráfico, mas continua sem resposta para Bogotá, porque o acordo de cooperação Brasil-Colômbia na área de Defesa ainda tramita no Congresso Nacional.
Na conversa reservada, Uribe insistiu com Lula que há um histórico de mútua confiança entre os países e, portanto, não haveria razões para suspeitas de que o acordo com os EUA resulte em agressões militares a territórios vizinhos. Assegurou ainda que, uma vez assinado o pacto, remeterá uma cópia a Brasíla. Lula considerou "tranquilizadora" a argumentação de Uribe e respondeu que iria esperar pela correspondência. Na entrevista, o presidente brasileiro declarou que não havia razões para o Brasil se incomodar.
Na prática, Lula demonstrou a Uribe que ele pode contar com o Brasil para evitar o isolamento na Unasul, desejado pelos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador. Para o governo brasileiro, disseram assessores de Lula, interessa ter a Colômbia plenamente integrada no bloco.
Diplomatas que acompanham o tema avaliam que, mesmo assim, o governo brasileiro manterá o debate sobre a necessidade de garantias bilaterais e multilaterais de que todos os acordos na área de Defesa de sócios da Unasul com países de fora do grupo não representarão ameaças à soberania territorial dos vizinhos.
Quando os líderes bolivarianos tentaram transformar o debate em exigências que tendiam a isolar a Colômbia, o governo Uribe reagiu pedindo que todos os acordos sejam postos sobre a mesa - como o do Brasil com a França e, especialmente, o da Venezuela com o Irã.