Dassault, Boeing e Saab também alteraram condições para transferência de tecnologia
Tânia Monteiro e Roberto Godoy - O Estado de S.Paulo
A última fase da licitação com participação direta das empresas que disputam a venda de 36 caças de alta tecnologia para o Brasil (um pacote de US$ 7,7 bilhões) foi encerrada ontem, com a apresentação das propostas finais, ampliadas, ao Comando da Aeronáutica. Participam a americana Boeing, a francesa Dassault e a sueca Saab.
Todas melhoraram significativamente suas ofertas. A Dassault, que fabrica o Rafale e havia sido considerada a parceira estratégica preferencial do Brasil pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, viu-se obrigada a reduzir seu preço - tanto pelo custo da hora de voo, considerado muito alto pelo governo brasileiro, quanto pela cifra referente ao valor de aquisição. A Saab fez contraponto à concorrente francesa, que anunciou a compra de uma dezena de aviões KC-390, o novo transporte militar projetado pela Embraer. Informou que o governo sueco estuda a possibilidade de adquirir não só essa aeronave, mas também um lote de turboélices Supertucano.
A Boeing reforçou o compromisso de abertura de conhecimento sensível e, pela primeira vez, citou uma preciosidade da engenharia militar americana - a tecnologia de furtividade, que dá ao avião capacidade de evitar a detecção por radares e sensores inimigos. O pacote do F-18 E/F foi todo revisto.
A empresa se compromete a doar ao Brasil um túnel de testes aerodinâmicos trissônico, a ser empregado em pesquisa supersônica e de desenho crítico.
Após receber as propostas, ontem à tarde, a Aeronáutica emitiu nota, confirmando a entrega da documentação. O comunicado, todavia, não trata do prazo de conclusão das análises técnicas, anteriormente prevista para o fim do mês. Em agosto, o brigadeiro Juniti Saito, comandante da Força, havia considerado publicamente a possibilidade de um anúncio formal no dia 23, data em que se comemora o Dia da Aeronáutica.
"A partir do recebimento desse material, que se somará ao já existente, a gerência do programa F-X2 e sua equipe, composta por mais de 60 especialistas em diversas áreas, procederá à elaboração do relatório final de análise técnica das aeronaves concorrentes, bem como a sua apresentação aos oficiais generais integrantes do Alto Comando da Aeronáutica", diz a nota. "Após, o Comando da Aeronáutica o encaminhará, em data a ser definida, ao Ministério da Defesa."
De acordo com brigadeiro Antonio Carlos Bermudez, que assina a manifestação, "o relatório permanece pautado pela valorização dos aspectos comerciais, técnicos, operacionais, logísticos, industriais, de compensação comercial e de transferência de tecnologia".
CONTRAPARTIDA
Em entrevista coletiva, o presidente mundial da Saab, Ake Svensson, declarou que ampliou a contrapartida, de 150% para 175%. "Geralmente, a compensação é de 100%. Estamos indo além disso porque queremos desenvolver parceria de iguais com a indústria brasileira. Oferecemos 175% (de compensações) em cima do valor do contrato - 80% da estrutura do avião será fabricada no Brasil para a Gripen mundial e 40% do desenvolvimento do projeto será feito aqui", afirmou Svensson. O executivo sueco não se referiu aos preços. Limitou-se a afirmar que o Gripen, monomotor, custa metade de um avião bimotor.
O secretário de Estado sueco, Häkan Jevrell, lembrou que na próxima semana Lula estará em seu país, "uma boa oportunidade para tratar de negócios e vender avião". O porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, disse que o presidente não pretende discutir o assunto. Lula terá um encontro na terça com o primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt.