Isabel Fleck - Correio Braziliense
Representantes das três empresas concorrentes no programa F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB) terão de explicar, hoje, aos deputados da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara que tecnologias pretendem transferir ao Brasil. A audiência pública, marcada para as 9h, reunirá, pela primeira vez, o diretor da Dassault International do Brasil, Jean-Marc Merialdo; o vice-presidente do programa F-18 da Boeing, Robert Gower; e o diretor da Saab no Brasil, Bengt Janér. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o diretor-presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, foram convidados para o encontro, mas, aparentemente, optaram por não se envolver no debate.
As três empresas entregaram, no último dia 2, as propostas finais ao comando da FAB. A expectativa é de que o relatório técnico sobre as ofertas fique pronto este mês — o documento será encaminhado a Jobim e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Representantes dos governos envolvidos e da Dassault, Boeing e Saab, que disputam, respectivamente, com os caças Rafale, F-18 Super Hornet e Gripen NG, têm falado, cada vez mais, à imprensa e aos parlamentares sobre suas propostas.
Há duas semanas, por exemplo, o chefe de Estado-Maior da França, Edouard Guillaud, e o secretário de Estado de Defesa da Suécia, Hákan Jevrell, compareceram, em sessões separadas da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Tecnologia
Na audiência de hoje, os deputados vão voltar o foco para a questão da transferência de tecnologia —colocada pelo governo brasileiro como item fundamental. "Todo mundo fala que vai transferir tecnologia e, agora que já foram fechadas as propostas, nós queremos saber objetivamente o que cada um vai transferir", afirma o deputado Emanuel Fernandes (PSDB/SP), autor do requerimento da audiência. Engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Fernandes disse que reuniu um grupo de colegas de faculdade que "trabalham no setor" para saber que tipos de tecnologia o Brasil precisa considerar na hora da escolha. "As pessoas escondem muitas tecnologias, sobretudo as relativas a armamentos", destaca.
O presidente da Comissão, Eduardo Gomes (PSDB/TO), esclarece que a "intenção" é "deixar registradas as informações" sobre transferência de tecnologia. "Ninguém vai entrar em questões concorrenciais, nem que seja obrigação exclusiva do Executivo, mas é preventivo e pedagógico que o Congresso Nacional, por meio de uma comissão de mérito, deixe registrado tudo publicamente, sem nenhum tipo de interpretação, que penda para um lado ou para o outro", diz Gomes. Para o deputado, o fato de os três concorrentes participarem da audiência garantirá mais transparência. "Os concorrentes terão, efetivamente, condições iguais para deixar registrado o que pretendem fazer com a transferência de tecnologia."