O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Anders Fogh Rasmussen, admitiu nesta sexta-feira que pode haver civis entre as vítimas de um bombardeio aéreo das forças internacionais contra dois caminhões-tanques de combustível na Província de Kunduz, no Afeganistão. O ataque deixou ao menos 90 mortos e levou a ONU (Organização das Nações Unidas) a pedir uma investigação sobre a identidade das vítimas.
"Certamente, um número de talebans foi morto e há uma possibilidade de vítimas civis também", disse Rasmussen, ressaltando que proteger os civis é prioridade das tropas internacionais no país.
Segundo Rasmussen, os 65 mil soldados da Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf) conseguiram reduzir a morte de civis em combates em 95% neste ano.
As forças da Otan estão investigando se efetivamente há vítimas civis no bombardeio aéreo contra dois caminhões-tanque com combustível roubados por militantes do grupo islâmico radical Taleban na Província de Kunduz. O ataque provocou uma grande explosão e um incêndio devastador na região.
Um porta-voz da aliança militar disse que muitos civis foram levados a hospitais locais para tratamento. "Há talvez uma relação direta com o incidente que ocorreu em torno dos dois caminhões-tanques", disse o brigadeiro-general Eric Tremblay.
Ataque
A porta-voz da Isaf, comandante Christine Sidenstricker, afirmou que as autoridades afegãs reportaram o roubo dos dois caminhões e o avião da Otan localizou os veículos na margem de um rio.
"Depois de observar que havia apenas insurgentes na área, o comandante local da Isaf ordenou os ataques aéreos que destruíram os caminhões e mataram um grande número de insurgentes", disse.
"O ataque foi contra os insurgentes. São eles que acreditamos serem as vítimas do ataque. Mas nós estamos investigando relatos de que há mortes civis", disse.
Questionada sobre como o piloto poderia identificar se a multidão era apenas de insurgentes, ela disse que as forças usam "informação disponível na cena".
Tensão
O ataque em Kunduz pode reacender a rejeição ao trabalho das forças internacionais entre os civis afegãos, dois meses depois que o novo comandante das forças dos EUA no país, Stanley McChrystal, anunciar medidas para reduzir a morte de civis na guerra.
Em reportagem publicada em junho pelo jornal americano "The New York Times", McChrystal afirmou em entrevistas nos últimos dias que a utilização de ataques aéreos no Afeganistão será permitida apenas para prevenir ofensivas contra tropas americanas e da coalizão internacional.
A declaração veio após a repercussão do ataque americano de 4 de maio passado que matou 140 civis Província de Farah, em maio, segundo fontes afegãs. Os EUA admitiram erros na operação, mas dizem ter matado mais talebans que civis. Dias após o ataque, militares americanos contabilizaram um saldo de 20 civis e 60 insurgentes mortos.
Vítimas
Segundo um relatório da ONU, o número de civis afegãos mortos em 2008 foi 40% maior que em 2007. O taleban causou a maioria das vítimas com ataques suicidas e bombas colocadas em estradas e acionadas a distância.
Segundo dados da Missão das Nações Unidas no Afeganistão (Unama), no primeiro semestre do ano morreram 1.013 civis no país vítimas do conflito, o que supõe um aumento de 24% respeito ao mesmo período do ano anterior.
Deles, 595 pessoas foram assassinadas pelas forças insurgentes e 310 morreram em ataques das tropas regulares e internacionais, sem que fosse possível determinar uma responsabilidade pelo resto dos falecimentos.
Embora situada no norte do país e longe das principais fortificações dos insurgentes --no sul e o leste-- Kunduz tem várias bolsas de população pashtun, a etnia da qual provêm tradicionalmente os talebans.