Americanos tentam avançar contra França, suecos estão em desvantagem
José Meirelles Passos
A declaração do governo dos Estados Unidos, feita ontem por meio de sua embaixada em Brasília, de que aprovara no último sábado "a transferência de toda a tecnologia necessária" dos caças F/A-18 Super Hornet ao Brasil é o elemento mais novo na disputa da americana Boeing com as concorrentes Dassault (França) e Saab (Suécia) para a venda de 36 caças à Força Aérea Brasileira.
Eles fazem parte da primeira parcela de um pacote que, de acordo com o novo Plano de Defesa Nacional, poderia atingir um total de 120 aeronaves desse tipo. Cada uma delas custa entre US$50 milhões e US$60 milhões.
O comunicado americano acrescenta outra novidade que, teoricamente, poderá acirrar a disputa. Diz que, ao analisar a questão no último dia 5 - à véspera do desembarque do presidente da França, Nicolas Sarkozy, em Brasília, com a intenção de concluir as negociações para a venda dos caças Rafale, da Dassault -, o Congresso dos EUA não fizera qualquer objeção à venda dos Super Hornet. Aprovou inclusive que a transferência de "tecnologias avançadas associadas" fosse "definitiva" - sugerindo, portanto, que não haveria restrição alguma.
Segundo especialistas do setor, faltou esclarecer um detalhe crucial: se tal pacote incluiria também os "códigos fontes" daqueles aviões. Ou seja, um órgão vital às aeronaves: são as linhas de código do programa de computador do caça, que controla todas as suas operações. Como, por exemplo, a de localizar um avião ou qualquer outro alvo inimigo no radar, e transmitir a sua posição ao sistema de mísseis a serem disparados contra ele. Tais códigos ainda estariam restritos, por lei, nos processos de transferência de tecnologia dos EUA.
A nota americana contém uma terceira novidade: a de que o governo dos EUA também aprovou a montagem final do Super Hornet no Brasil. Nas conversas anteriores com as autoridades brasileiras, os americanos diziam que seria inviável ter essa linha de montagem para produzir apenas 36 unidades.
Eles se dispunham apenas a fazer a revisão das turbinas no Brasil. No entanto, a informação (conhecida posteriormente) de que o total seria bem maior teria servido para alterar a oferta.
Ao saber, ontem, que o Brasil na verdade não havia encerrado a análise de todas as propostas, a empresa sueca Saab comunicou que decidiu reavaliar a sua oferta e preparar uma nova a ser enviada a Brasília nos próximos dias. No momento, o seu caça Grippen teria algumas desvantagens técnicas. Uma delas é a falta de um radar confiável. Além disso, a disponibilidade da empresa de montar os aviões no Brasil foi minada por um veto americano: como o avião sueco possui alguns componentes made in USA, o governo dos EUA (interessado direto na concorrência) avisou que não autorizaria a Saab a transferir tecnologia americana ao Brasil.
Até que o governo americano desse, ontem, um novo passo nessa disputa, o jato Rafale, da francesa Dassault, tinha nítida vantagem sobre os outros dois concorrentes - apesar de a França jamais ter conseguido vendê-lo no exterior desde que esse caça entrou em operação, 21 anos atrás.
Oferta dos EUA acirra a disputa
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