Lula e Amorim anunciaram acordo com a França, mas FAB sequer concluiu análise
Jailton de Carvalho e Catarina Alencastro - O Globo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu abrir negociação para a compra de 36 caças Rafale, da empresa francesa Dassault, antes de receber o relatório da Força Aérea Brasileira (FAB) sobre as propostas dos três concorrentes que disputam o negócio milionário. Segundo a Aeronáutica, a previsão é que o documento com o ranking das empresas que disputam o negócio seja entregue a Lula pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, só no fim deste mês. No parecer, técnicos da FAB apontarão vantagens e desvantagens de cada proposta e informarão ao presidente qual projeto seria melhor para os militares brasileiros.
Três empresas participam da licitação. Além da Dassault, estão na disputa o sueca Gripen e o caça americano F18. Segunda-feira, após o desfile do Sete de Setembro, Lula se reuniu com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e anunciou a abertura de negociações com a Dassault para a compra dos aviões de combate. Anteontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que esteve com Sarkozy no camarote de Lula durante o desfile, não deixou dúvidas sobre a escolha do governo brasileiro.
- Se a licitação acabou? Não sei. Não vou entrar em aspectos legais. Há uma decisão de iniciar negociação com um fornecedor, e não há a mesma decisão em relação aos demais.
Jobim: questão não está fechada
Em nota divulgada ontem à noite, o ministro da Defesa ratificou o interesse pela oferta da Dassault, mas afirmou que o governo não fechou questão sobre o assunto. Segundo ele, o presidente da França prometeu oferecer "preços competitivos e razoáveis". A oferta foi feita, segundo a nota, dia 6. Lula e Sarkozy jantaram nesse dia.
A nota de Jobim afirma, no entanto, que o processo de compra não foi encerrado. "Diante desse fato novo, o processo de seleção do Projeto FX-2, conduzido pelo Comando da Aeronáutica, ainda não encerrado, prosseguirá com negociações junto aos três participantes, onde serão aprofundadas e, eventualmente, redefinidas as propostas apresentadas", sustenta Jobim.
Antes da divulgação da nota, Jobim explicou a líderes partidários a decisão anunciada. A explanação de Jobim foi feita após apresentação da Estratégia Nacional de Defesa e do projeto de lei complementar do Executivo para dar mais poder ao Ministério da Defesa. Segundo o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), faltam apenas alguns detalhes para que a negociação com a França seja concluída.
- Está bem encaminhado com a França, mas o Jobim disse que tem que haver estudo do detalhamento técnico e financeiro da proposta. Mais financeiro, sobre vantagens, enfim, um exame mais cuidadoso. A tendência é que o negócio se concretize - disse.
Aos deputados, Jobim teria dito que a escolha teria sido feita porque a França vai repassar tecnologia para o Brasil, o que os EUA não estariam dispostos a fazer. O encontro do ministro da Defesa com os líderes aconteceu na casa do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). PSDB, DEM e PPS, convidados, não compareceram.
Na Câmara, o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), acusou o governo de encerrar a concorrência bilionária sem qualquer transparência:
- Não sabemos sequer os termos do contrato. Será que haverá mesmo transferência de tecnologia? O preço é mesmo competitivo? Todas essas perguntas continuam em aberto.
COLABORARAM: Eliane Oliveira e Bernardo Mello Franco