Para assessor, EUA costumam ter reservas para transferir tecnologia
Luiza Damé e Eliane Oliveira - O Globo
BRASÍLIA. Após dar preferência para a França na compra de 36 aviões de combate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem com ironia à disposição dos Estados Unidos de transferir tecnologia do FA-18 Super Hornet e montar os aviões no país, se o governo brasileiro decidir pelos caças americanos. Perguntado sobre a nova oferta dos EUA, comentou:
- Daqui a pouco vou receber (os caças) de graça - disse Lula, ao chegar à recepção ao presidente de El Salvador, Mauricio Funes, no Palácio do Itamaraty.
Diante da pressão, o governo brasileiro, que já manifestou interesse pela oferta da Dassault, anunciou que o processo para a compra dos caças está aberto.
- Esse assunto será encerrado até o fim do ano - disse o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Fontes diplomáticas manifestaram reservas à proposta americana. O argumento é que há histórico de problemas de transferência de tecnologia com os EUA. O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que, diferentemente da França, os Estados Unidos não têm "bons antecedentes" nas negociações com o Brasil nas questões de defesa.
Marco Aurélio disse que as boas relações com a França se refletiram no acordo que permitirá a construção no Brasil de cinco submarinos - um de propulsão nuclear - e 50 helicópteros de transporte militar, todos de tecnologia francesa. Em relação aos EUA, lembrou o episódio da venda para a Venezuela de aviões Super Tucanos, fabricados pela Embraer, em 2006. Os EUA vetaram a negociação brasileira, porque os aviões têm componentes americanos.
"Queremos saber se há garantias efetivas"
Na defesa da posição francesa, o assessor disse que, no caso do acordo sobre helicópteros e submarinos, além da transferência de tecnologia e da construção dos equipamentos no Brasil, o país terá reserva de mercado dos helicópteros na América Latina e na África.
- Ele (Jobim), como brilhante advogado, trabalhava com antecedentes. Os antecedentes com outros parceiros não eram bons, e com a França no caso dos submarinos e dos helicópteros é bom.
Para Marco Aurélio, a disposição dos Estados Unidos de transferir tecnologia é genérica, e pede garantias efetivas:
- Transferência de tecnologia é um termo geral; nós queremos saber se há garantias efetivas de transferência.