Elite de atletas do Brasil é "incorporada" para disputar Jogos Mundiais Militares no Rio
Fábio Juppa – O Globo
Para deixar Afogados da Ingazeira, no coração do sertão pernambucano, e ganhar o mundo, Yane Marques passou por inúmeras provações. Teve de aprender princípios básicos de esgrima, tiro, equitação e aperfeiçoar seu estilo pouco convencional de nadar e correr. Em 2007, foi medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos e, no domingo passado, vice-campeã mundial de pentatlo moderno, ficando à frente da alemã Lena Schoneborn e da britânica Heather Fell, respectivamente campeã e vice olímpicas
Concebido por autoridades civis como evento-teste para as Olimpíadas de 2016, cuja candidatura da cidade é favorita no pleito de 2 de outubro, em Copenhague, os Jogos Mundiais Militares, orçados em R$1 bilhão, dinheiro do governo federal, são parte de uma cadeia de eventos que inclui o Pan
- Potências como China, Rússia, Alemanha e Itália montam sua base esportiva com estrutura militar - explica o nadador Luiz Lima, que divide com o major Siqueira, do Exército, a orientação da equipe de natação. - O Alain Bernard (ex-recordista mundial dos 100m livre) está no time francês.
Atletas olímpicos se tornarão sargentos
Atualmente dedicado à maratona aquática, prova que não consta do programa militar, Luiz Lima teve como primeira missão ajudar na seleção de nadadores de alto rendimento que enviaram currículos para o Exército após lançamento de edital público. Foram selecionados 23, que a partir dos próximos dias 23 e 24 farão provas práticas e inspeção de saúde. Entre eles estão Kaio Márcio, Gabriel Mangabeira, Poliana Okimoto, Nicolas Oliveira, Henrique Barbosa e Monique Ferreira. Natália Falavigna, bronze nos Jogos Olímpicos e campeã do mundo de 2005, está entre as selecionadas do taekwondo. Os velocista Vicente Lenílson e a saltadora Keila Costa integram o time do atletismo; o judô vem, entre outros, com Leandro Guilheiro, João Derly e Tiago Camilo, e o vôlei de praia com o campeão olímpico Emanuel. Um segundo edital está a caminho. Os atletas, se aprovados, serão nomeados sargentos temporários do Exército por período mínimo de um ano e máximo de sete, com direito a usufruir dos benefícios da vida militar, incluindo o recebimento de soldo de R$2 mil.
- Nosso interesse é que seja atleta e compita pelo Exército - explica o major Siqueira.
Indagado sobre a participação das Forças Armadas no processo de formação de atletas e massificação do esporte no Brasil, o major é reticente. Adverte que a questão é política, envolve custos e depende da disposição do governo federal
- Primeiramente, pagamos melhor. Aqui, os atletas são sargentos. Lá, cabos. E temos mais conhecimentos do meio (esportivo). Mas a Marinha também merece elogios.
As competições ocorrerão entre 16 e 24 de julho de 2011, nas instalações do Pan (Complexo de Deodoro, Engenhão, Parque Aquático Maria Lenk, Maracanãnzinho e Praia de Copacabana). Serão 38 modalidades de 20 esportes. Ontem, no lançamento dos Jogos, no Forte de São João, na Urca, estiveram presentes o prefeito Eduardo Paes, o governador Sérgio Cabral e o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Mas foram do major-general Gianni Gola, italiano que preside o Conselho Internacional do Esporte Militar (CISM), as palavras que reforçam a crença de que todo o esforço terá resultado já no dia 2 de outubro:
- Muitos delegados do Comitê Olímpico acham que (a disputa pela sede de 2016) é ocasião importante para provar que a universalidade não é um conceito teórico. É hora de abrir portas para novas áreas.