Vasconcelo Quadros, Jornal do Brasil
Brasília - O presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, Severiano Alves (PDT-BA), pretende envolver os deputados na discussão do programa nuclear brasileiro e analisar a pesquisa do físico Dalton Girão Ellery Barroso que comprovou que o Brasil já detém o domínio sobre o conhecimento e a tecnologia necessários para a construção da bomba atômica, como revelou o Jornal do Brasil.
– É preciso ver se há coisas que não sabemos sobre esse tema – disse o deputado, que promete colocar o assunto na pauta quarta-feira, na reunião da comissão. Segundo ele, os deputados vão decidir se convidam ou convocam o físico e os ministros Nelson Jobim, da Defesa, e Celso Amorim, das Relações Exteriores.
No Senado, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), também avalia que Barroso deve ser convidado a prestar depoimento para explicar as conclusões da tese em que, entre outras descobertas, revela cálculos e equações do modelo original de uma ogiva nuclear americana, a W-87. As informações parciais sobre a parte externa do artefato havia vazado de um relatório do Congresso dos Estados Unidos. O físico brasileiro usou um programa de computador para aprofundar os cálculos e desvendou o interior da figura.
Hipocrisia
– O Congresso deve conhecer os avanços sobre conhecimento e tecnologia nuclear – disse o senador Flávio Torres (PDT-CE), que é físico por formação. Ele disse que a interferência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no assunto é hipocrisia e reflete a "pressão em cima dos países que não têm a bomba pelas potências que já detém arsenais nucleares". Contrário à bomba, Torres acha que o país já sabe como fazer os artefatos, mas defende o desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia como arma de dissusão para obrigar as potências a eliminarem os arsenais.
– O Brasil tem a cabeça no lugar, mas já desenvolveu conhecimento e tecnologia necessários para fazer a bomba, se quisesse – disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O senador considera como correto que a comissão ouça o físico, os ministros e representantes da AIEA para esclarecer o motivo das divergências sobre o programa nuclear brasileira.
– O Congresso tem que se meter nesse assunto e ver o que há de novo. Não pode é ficar alheio.
O Brasil deve desenvolver o conhecimento e a tecnologia nuclear e nós como utilizar – completou o senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC), vice-presidente da comissão.
– Sou contra o país fazer experimentos. Não há segredos hoje sobre as pesquisas e a tecnologia desenvolvidos. Acho que o Brasil deve mostrar que sabe, mas não quer fazer a bomba atômica – diz Flávio Torres. O senador cearense considera ridículo o questionamento feito pela AIEA sobre a pesquisa de Barroso. – O Brasil não pode se intimidar diante desse tipo de pressão.