Para fazer frente à França, governo americano aprovou montagem final no Brasil; suecos devem fazer nova proposta
Jailton de Carvalho - O Globo
BRASÍLIA. O governo dos Estados Unidos reagiu ontem à decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de abrir, em caráter preferencial, negociação com a empresa francesa Dassault para a compra de 36 caças Rafale, em detrimento da americana Boeing e da sueca Saab. As três participam da disputa para a venda dos aviões à Força Aérea Brasileira. Em nota, a Embaixada dos EUA informa que a Boeing fará nova oferta e não abre mão de participar das negociações da venda dos caças.
O governo americano tem um trunfo para falar grosso e se manter no páreo. A Embraer, destinatária de boa parte do esforço do governo brasileiro neste negócio, está em negociação sigilosa para a venda de cem aviões Super Tucanos para as Forças Armadas americanas, segundo revelou ao GLOBO uma fonte que acompanha os entendimentos entre as duas partes. Não há vínculo direto entre os dois negócios, mas a venda da Embraer pode ficar mais difícil se a Boeing for prontamente descartada na licitação da FAB.
A decisão do governo americano de insistir na proposta ficou clara: "Entendemos que uma decisão final ainda não foi tomada em relação ao vencedor do contrato. O F/A-18 Super Hornet é um caça de avançada tecnologia testado em combate e acreditamos que é o melhor em comparação com seus concorrentes. O governo dos EUA apoia totalmente a venda do F/A-18 Super Hornet à Força Aérea Brasileira", diz o texto enviado ao Planalto e aos ministérios da Defesa e Relações Exteriores, entre outros órgãos públicos.
A embaixada explica que o governo e o Congresso dos Estados Unidos decidiram, no último dia 5, aprovar a transferência de tecnologia da Boeing para o Brasil. A não transferência de tecnologia era, até então, um dos principais entraves às negociações entre os governos do Brasil e dos EUA. "A aprovação do governo dos Estados Unidos para transferir ao Brasil as tecnologias avançadas associadas ao F/A-18 Super Hornet é definitiva. O governo aprovou também a montagem final do Super Hornet no Brasil", diz a nota.
A sueca Saab, que concorre com o caça Gripen, deve fazer nova proposta. Segundo a embaixada da Suécia, a empresa está fazendo uma análise das mudanças para oferecer vantagens adicionais.