Klecio Santos
Diretor-geral no Brasil da SAAB, que fabrica o caça sueco Gripen, Bengt Janér, rompeu ontem o silêncio. Em entrevista a Zero Hora, falou das vantagens do seu avião em relação ao francês Rafale e ao americano F-18. Se mostra resignado com o favoritismo francês, mas põe em xeque a escolha de uma empresa que estaria abalada financeiramente pela crise. A seguir, os principais trechos:
Zero Hora – A SAAB entende que houve confusão ou um anúncio precipitado na forma como o governo brasileiro demonstrou preferência pelos caças franceses?
Bengt Janér – Não houve confusão. O presidente Lula recebeu o visitante ilustre (Nicolas Sarkozy) e a pressão deve ter sido muito grande. Nós entendemos que foi por aí. No dia seguinte, o ministro (Nelson Jobim) colocou as coisas de novo como eram. Ou seja, o francês fez uma proposta que parecia irrecusável e agora ela precisa ser colocada no papel. Só vai valer o que está escrito na concorrência. Também fomos chamados para melhorar a nossa proposta.
ZH – Vocês consideram que o governo brasileiro foi pressionado neste caso?
Janér – Foi uma pressão grande do governo francês. Esse processo tem sido muito profissional comparado com outras concorrências. O trabalho da Aeronáutica é primoroso. Temos alguns dias para melhorar a nossa proposta.
ZH – A questão técnica vai prevalecer sobre a político-diplomática, já que está clara a vontade do Brasil em estabelecer uma relação mais próxima com a França nesses dois campos?
Janér – Para nós, o que vale é o relatório técnico. Podemos até perder numa decisão política. Faz parte do processo. É o risco que corremos. Agora, nós achamos que temos uma proposta extremamente atraente.
ZH – Uma das vantagens de vocês seria a oferta de produção do avião aqui no Brasil?
Janér – Sim, vamos produzir juntamente com a indústria nacional. Os outros dois já estão com o bolo pronto, vão dar uma receita de uma coisa pronta que estão chamando de transferência de tecnologia. Temos um produto pronto que é o Gripen C/D, que ganhou mais de 50% das concorrências que participamos. Para o Brasil será uma versão mais atualizada, com um motor mais possante.
ZH – Qual a principal diferença entre o Gripen e o Rafale?
Janér – O Rafale é um produto de 2003 com algumas pequenas modificações. O Gripen NG (versão modernizada) é um produto de 2012. Ou seja, quando estivermos entregando o primeiro Gripen, em 2014, ele estará 10 anos na frente do seu concorrente mais próximo. Isso sem falar no F-18 americano, que é um modelo ainda mais antigo.
ZH – O senhor acha que o presidente Lula voltaria atrás na decisão?
Janér – Não. Ele está fazendo uma coisa positiva para a nação. Se no final, o presidente, por questões políticas, se decidir pelo Rafale, é um direito que ele tem.
ZH – A Dassault contou com um apoio de peso, o do presidente Nicolas Sarkozy. Essa é a grande vantagem da empresa?
Jáner – Sarkozy é realmente um grande vendedor. Nós não temos essa força política que a França e os EUA têm. Mas o que estamos oferecendo é uma parceria de verdade e não simplesmente a venda de um produto. Fico imaginando que essa compra irá salvar a Dassault, que é uma concorrente da Embraer. Para nós essa é uma questão estranha. Elas são concorrentes na área de aviação corporativa.
ZH – Que outras vantagens o Gripen tem?
Janér – Vamos criar empregos só no Brasil. A montagem da aeronave será aqui. E estamos acreditando numa parceria com a Embraer para vender esse avião pelo mundo. Juntos, seremos imbatíveis. Os caças monomotores (como o Gripen) dominam o mercado. Em comparação com o Rafale, é como se você ganhasse uma Ferrari, mas não pode vendê-la. Ou seja, os bimotores são caças caros para operar. Estamos falando hoje de US$ 4 mil o custo da hora de voo, que inclui manutenção e combustível. O caça bimotor mais barato do mercado não sai por menos de US$ 14 mil a hora. Se multiplicar por 200 horas de voo por ano, que é a média, são US$ 2 milhões. Multiplica por 36 caças, imagina. Uma coisa é receber o produto, outra é mantê-lo com o orçamento limitado das Forças Armadas.