Aliança militar ocidental defende nova era de cooperação um dia após Obama engavetar projeto de escudo no Leste Europeu
Secretário-geral sugere que sistemas antimísseis sejam integrados focando o Irã e a Coreia do Norte; Moscou diz que "o tom é muito positivo"
DA REDAÇÃO – Folha de S.Paulo
No dia seguinte ao anúncio dos EUA do engavetamento do projeto de escudo antimísseis no Leste Europeu, a Otan pregou ontem "recomeçar" as relações com o Kremlin e sugeriu interligar os sistemas de defesa entre a aliança militar ocidental, Washington e Moscou.
"Acredito ser possível que Otan e Rússia mantenham nova relação muito mais produtiva no futuro", afirmou o secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen,
Anteontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciara a decisão de não dar continuidade ao plano, de George W. Bush (2001-2009), dizendo basear-se na revisão da ameaça representada pelo Irã, motivação alegada para o escudo. Mas o recuo foi interpretado como um aceno a Moscou, para quem o escudo era uma ameaça à sua segurança. Em visita à Rússia em julho, Obama defendera "recomeçar" a relação entre os ex-rivais da Guerra Fria.
Segundo o secretário-geral da Otan, uma cooperação com Moscou deve focar a suposta ameaça representada por uma Coreia do Norte nuclear e um Irã no mesmo caminho - diz o Ocidente - e o Afeganistão, onde a missão da aliança utiliza a Rússia de rota de suprimento. O embaixador russo na aliança, Dmitri Rogozin, disse que o tom da proposta de Rasmussen foi "muito positivo". "A cooperação com a Rússia não é uma questão de escolha, mas de necessidade", disse o diplomata.
Ponto de divergência
As relações entre Moscou e a Otan chegaram a um dos pontos mais baixos em agosto de 2008, quando foram congeladas na esteira da guerra-relâmpago travada entre a Rússia e a Geórgia. As relações foram restabelecidas em março, mas não lograram evitar novos sobressaltos nos últimos meses.
Apesar do novo aceno da Otan, resta de entrave na relação o projeto de expansão da aliança sobre Ucrânia, uma ex-república soviética, e Geórgia. Mas a entrada de ambas tem sido travada por potências como França e Alemanha em prol de melhor relação com a Rússia. O ex-presidente e atual premiê russo, Vladimir Putin, disse ontem que a decisão de Obama foi "correta e corajosa", mas cobrou que leve a outras, como o fim de restrições comerciais e à transferência de tecnologia.
Já a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, saiu ontem em defesa da medida. "Ela nos deixará mais fortes e mais capazes de defender os nossos soldados, interesses e aliados."