Pacote militar não transformará o Brasil numa potência, mas dará boa capacidade de defesa e pode ser crucial para futuros conflitos na AL
Dependência de um único fornecedor, a França, é um dos problemas, porque mudanças políticas podem levar a alteração no contrato
IGOR GIELOW
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o acordo assinado ontem com a França, o Brasil começa a enterrar o discurso de que ser pacifista significa ter Forças Armadas mínimas. Mas nem por isso se transformará numa potência militar a ameaçar os seus vizinhos.
Os valores envolvidos só encontram similares no mundo emergente nos gastos da Índia - que irá comprar US$ 11 bilhões em aviões de combate em breve. Mas os mais de R$ 30 bilhões a serem gastos em 20 anos na compra de submarinos, helicópteros e caças representam cerca de dez dias do gasto militar americano em 2008.
Não deverá haver impacto significativo no gasto militar proporcional ao PIB, hoje na casa dos 1,5%. É compatível com a média de 1,3% da América Latina, mas no caso brasileiro mais de 80% são gastos com salários e pensões. Ainda assim, para fins de comparação, o gasto previsto para o PAC neste ano está em R$ 22 bilhões.
O objetivo final da Marinha, um submarino de propulsão nuclear, colocará o Brasil num clube seleto hoje com seis nações que têm esse tipo de embarcação. Em tese, não haverá rival naval para o país na região.
Se não são adequados para patrulhar a costa, como inicialmente o governo tentou alegar, projetam uma ameaça silenciosa a milhares de quilômetros - desencorajando frotas hostis.
A construção da nova base e estaleiro devido às exigências francesas tem alto custo, 1,8 bilhão de euros, quase o mesmo que será gasto no modelo de propulsão nuclear. A escolha fechada da construtora Odebrecht para a realização da obra pelos franceses também é questionável - a Defesa diz que fazia parte do "pacote" francês.
No caso dos helicópteros e caças, o que há é um reaparelhamento de uma frota que vai caducando dia a dia. Mesmo o plano da FAB de no futuro ter 120 aviões padronizados de combate, no caso o Rafale, apenas coloca o Brasil numa posição confortável de defesa de seu território, e não como uma ameaça aos vizinhos.
A modernização militar é necessária num cenário de crescente instabilidade na América Latina. As compras anunciadas ontem são maiores que as feitas pela Venezuela na Rússia, mas são menos "completas" em variedade do que a modernização que o Chile vem promovendo há alguns anos. Um cenário de confronto entre algum país alinhado a Caracas com seus vizinhos não é desprezível.
Isso tudo pesa na elaboração de uma parceria estratégica, que tem como desvantagem básica a colocação de todos seus recursos num único fornecedor: uma mudança política em Paris no futuro, ainda que improvável, pode comprometer o acordo.
Acordo equivale ao gasto dos EUA em 10 dias
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