TATIANA SABADINI
Se existisse alguma chance de Álvaro Uribe aparecer em Quito para a cúpula da Unasul, ela não teria resistido a mais um incidente militar na tensa fronteira entre Colômbia e Equador. No sábado, o exército colombiano capturou militares equatorianos no departamento de Putumayo. Eles foram prontamente repatriados, mas até o fim da tarde persistiam controvérsias, inclusive quanto ao número de soldados e às circunstâncias nas quais cruzaram o limite entre os dois países. As relações bilaterais estão suspensas desde março de 2008.
O Ministério das Relações Exteriores colombiano afirmou que um oficial, um suboficial e nove soldados do Equador teriam sido flagrados na localidade de La Reforma, na cidade de Puerto Leguízamo. O governo equatoriano classificou o episódio como “um problema administrativo” e deu-o por encerrado com a entrega dos militares. “As autoridades de ambos os países já conversaram e, até onde eu sei, o assunto está resolvido”, comentou o ministro da Segurança, Miguel Carvajal. Os militares equatorianos foram encontrados a 300m da fronteira e, embora de início as autoridades locais tenham dito que seriam apenas dois, o ministro da Defesa, Javier Ponce, confirmou o número de 11 informado pela Colômbia. As partes coincidem em afirmar que os “invasores” estavam desarmados.
“Tudo está tranquilo e não houve nenhum problema, porque foi uma questão fora de ação militar”, relata o site oficial da Presidência equatoriana. “O grupo foi ao território colombiano, aparentemente, para comprar um pouco de peixe e comida. Não tinham armas, estavam de short e roupa esportiva, nem estavam fardados”, acrescentou Ponce à agência de notícias estatal. O ministro da Defesa declarou ainda que o governo não pretende fazer nenhuma queixa às autoridades colombianas, e resumiu o incidente a um “ato de ingenuidade” por parte dos militares.
Equador e Colômbia têm um contencioso desde março de 2008, quando um acampamento da guerrilha das Farc foi bombardeado do lado equatoriano da fronteira. Em resposta, o presidente Rafael Correa retirou seu embaixador de Bogotá, ordenou a saída do representante colombiano e suspendeu formalmente as relações. Desde então, os atritos se sucederam, em especial com as denúncias do governo Uribe sobre as relações entre os rebeldes e auxiliares importantes de Correa, inclusive exministros.
No mês passado, a Justiça equatoriana iniciou trâmites para levar a julgamento o ex-ministro colombiano da Defesa Juan Manuel Santos, que respondia pela pasta na época do bombardeio e é o favorito de Uribe para sucedê-lo em 2010 — se o próprio presidente não for autorizado a disputar o terceiro mandato consecutivo.