Virgínia Silveira, de São José dos Campos
A Flight Technologies, única empresa 100% brasileira na área de desenvolvimento de sistemas de controle e informação de voo (aviônicos) integrados para aeronaves leves e veículos não tripulados, foi selecionada pelo programa de subvenção econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para aperfeiçoar um aviônico para o setor de defesa.
Com domínio dessa tecnologia, a Flight será a primeira brasileira a entrar nesse segmento com marca própria e produto de alto valor agregado. A empresa quer tornar-se uma alternativa competitiva no setor aeroespacial mundial e iniciou a sua investida no mercado externo através de uma parceria com a alemã Becker Avionics.
O mercado de aviônicos integrados, segundo Nei Brasil, diretor da Flight, é um dos mais dinâmicos e estratégicos da indústria aeronáutica e de defesa, movimentando cerca de US$ 20 bilhões por ano. "A parceria com a Becker faz parte da estratégia de tornar o nosso negócio global, utilizando os canais de distribuição, marketing e vendas da empresa lá fora", explica Brasil. Para a Becker, segundo ele, a parceria com a Flight é uma forma de a empresa melhorar a sua participação no Brasil.
As empresas trabalham juntas há dois anos no desenvolvimento de um sistema de navegação aérea, com aplicações de defesa e segurança. O produto, conhecido pela denominação BFT Mission Moving Map, possui capacidade de navegar entre ruas e perímetros urbanos. A Flight e a Becker também estão desenvolvendo os instrumentos de voo da aeronave de treinamento militar T-Xc Pilgrin, projeto encampado pela Novaer Craft, consórcio formado pela Flight, Winnstal e Geometra.
Segundo Brasil, o projeto feito com o apoio da Finep capacitará a empresa a atender às necessidades operacionais da Força Aérea Brasileira (FAB) na área de aviônicos integrados. "Estamos preparados para participar da modernização de aeronaves da FAB e também teríamos interesse nos grande programas de aquisição, como o dos caças F-X2, os novos helicópteros Super Cougar e do novo cargueiro KC-390, que será desenvolvido pela Embraer", disse.
O Plano Estratégico da Aeronáutica, aprovado pelo Ministério da Defesa, segundo o diretor de Material Aeronáutico e Bélico da FAB, brigadeiro Hélio Paes de Barros Júnior, prevê a substituição dos aviões de treinamento primário T-25 Universal e T-27 Tucano, somente para 2020 e 2022, respectivamente. Desenvolvido na década de 60, o T-25, por exemplo, apresenta problemas operacionais que limitam seus voos, além da falta de peças de reposição.
"Estamos estudando uma possível modernização da aviônica do T-27 para atender a necessidade de treinamento mais avançado dos cadetes da Aeronáutica. Mas este projeto não está oficializado, embora se trate de uma necessidade operacional da Força", afirma o brigadeiro.
A FAB contratou a empresa Aeroeletrônica, de Porto Alegre, para fazer a modernização dos sistemas aviônicos das aeronaves AMX, F-5 e, mais recentemente, do Bandeirante. O grupo israelense Elbit Systems assumiu o controle da Aeroeletrônica em 2001, como parte de um acordo de transferência de tecnologia feito com a Aeronáutica para o programa de modernização da frota de F-5.
Os sistemas aviônicos da aeronave C-130 também estão sendo modernizados e a FAB contratou a empresa americana Astronautics para o trabalho. "Já modernizamos 11 aeronaves de um total de 22", explica o diretor da FAB. A Flight, segundo Brasil, deve participar de parte desse projeto em parceria com a Becker. "Estamos propondo fabricar um equipamento de gerenciamento de comunicação da tripulação com os órgãos de controle."
Fundada em 2003 por dois engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Flight foi a primeira empresa a instalar-se na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do CTA (Comandogeral de Tecnologia Aeroespacial). Logo depois a empresa assinou o primeiro contrato na área de VANTs (veículos aéreos não tripulados).
Atualmente, seus principais clientes são o CTA, o Centro Tecnológico do Exército (CTEX) e a Avibrás. A Flight tem 17 funcionários, todos originários do ITA, e com nível de mestrado e doutorado.