Radiofrequência é base de projeto para gerenciar suprimentos
Gustavo Brigatto | Valor, de São Paulo
No quartel de 1898, que já serviu de posto de distribuição de alimentos à população da capital paulista durante a Segunda Guerra Mundial, circulam hoje provimentos que abastecem 61 unidades do Exército no Estado de São Paulo.
Dali saem também fardas, alimentos e equipamentos usados por militares em todo o Brasil e em missões internacionais, como a do Haiti.
Nos próximos meses, no entanto, o 21º Depósito de Suprimento do Exército se tornará também a principal fonte de tecnologias com as quais a instituição planeja dar nova forma a seu processo de compra e gerenciamento de suprimentos, num esforço para alinhar a logística militar às melhores práticas da iniciativa privada. "Se [o Exército] não retomar a dianteira na logística, vai chegar muito perto dela", diz o coronel Luiz Antônio de Almeida Ribeiro, chefe do 21º Depósito e coordenador do projeto-piloto que começou a ser implantado este ano.
Foram meses de pesquisa e testes de diferentes produtos e tecnologias. A base do projeto, explica o coronel, é colocar etiquetas inteligentes ou RFID (Radio-Frequency Identification) em todos os itens adquiridos pelo Exército para ter um controle mais eficiente do que entra e sai dos 16 depósitos espalhados pelo país.
A relação de itens é enorme. Segundo a companhia americana Intermec, fornecedora dos equipamentos adquiridos pelo Exército para o projeto, cerca de 9 milhões de itens são girados a cada dois meses só no 21º Depósito.
A utilização da tecnologia vai facilitar o trabalho e reduzir os custos. "Se for preciso deslocar um contingente [de soldados], eu não preciso comprar um determinado suprimento que já está disponível no estado de destino", exemplifica o coronel.
A tecnologia também ajuda a tirar proveito da modalidade de compra por registro de preços.
Suponhamos que um fornecedor do Nordeste ofereça um preço menor para fardas. Pelo prazo de um ano, um depósito localizado no Sudeste, por exemplo, pode comprar o suprimento desse fornecedor, em vez de adquiri-lo de um vendedor mais próximo, porém com preço mais alto. O RFID ajuda nesse processo ao aumentar a visibilidade sobre os preços em todo o país.
O projeto-piloto será finalizado em novembro e a partir daí poderá ser implantado em todo o Exército, Marinha, Aeronáutica e outros órgãos públicos, diz o coronel. "A Polícia Federal tem nos procurado."
É um processo que exige análises cuidadosas. O coronel Luiz Antônio chegou a avaliar a implantação de etiquetas em todas as peças que compõem a farda, mas desistiu da ideia. Custando nove reais, a etiqueta saía mais cara que uma camiseta, de quatro reais.
A decisão foi colocar as etiquetas nas caixas e nas embalagens dos produtos, o que permitiu a continuidade do projeto, sem estourar um orçamento enxuto. Até agora, conta o coronel, foram gastos apenas R$ 240 mil na iniciativa. Na conta estão incluídos a compra dos leitores e impressoras de etiquetas de RFID da Intermec e as caixas plásticas que substituirão o papelão no armazenamento das cargas nos galpões do 21º Depósito. "O retorno com a redução de custos diversos é de dez vezes isso", diz o coronel.
O projeto com RFID é parte de uma estratégia proposta em 2006 pelo comando do Exército para reformular seu processo de logística. Todo o projeto tem sido feito por pessoal interno. Ao todo, participam da iniciativa 200 pessoas entre militares do 21º Depósito e engenheiros do Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro.
Além do sistema que fará a leitura das etiquetas, também está sendo desenvolvido um software de gerenciamento de almoxarifado. Os programas são baseados em sistemas de código aberto, que dispensam o pagamento de licenças.
A guerra contra o custo, entretanto, está longe de acabar. Segundo o coronel, ainda falta estudar o uso do RFID em produtos como frango (que, por conter água, reflete o sinal de rádio). Outro passo será incorporar sistemas de rastreamento às viaturas da 2ª Companhia de Transporte, que fica no 21º Depósito. "O projeto é longo", diz o coronel.
A água não reflete o sinal RFID e sim absorve esse sinal.
ResponderExcluirApenas em casos particulares a água é capaz de refletir sinal RF.
Damien, mui grato pela informação. Se mais souber e puder contribuir, fique a vontade.
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