Franceses, que negociam com governo brasileiro, pagam viagens de deputados
Temer: "Não vejo isso como tentativa de sedução"
Lúcia Jardim – O Globo
Paris. Em meio às negociações de acordos no setor de Defesa entre o Brasil e a França, oito deputados brasileiros encerraram ontem uma visita de cinco dias a Paris. As despesas da comitiva foram pagas pelo governo francês e por empresas daquele país -- especialmente a fabricante bélica Dassault -, que convidaram os parlamentares para "melhor conhecer as atividades de Defesa e Segurança" do país.
Nesta semana, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, esteve na França, se encontrou com autoridades e ontem visitou a Dassault, onde voou num Rafale. Os caças franceses vêm sendo apontados como os preferidos pelo governo brasileiro, em detrimento dos americanos F-18, da Boeing, e dos suecos Gripen NG, da Saab, na licitação FX-2, da Força Aérea Brasileira.
Os deputados preferiram não avisar a imprensa sobre suas atividades em Paris. A comitiva, integrada pelo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), os líderes do DEM, Ronaldo Caiado (GO), do PT, Cândido Vaccarezza (SP), e do PSDB, José Aníbal (SP), além do presidente da Frente Parlamentar de Defesa Nacional, Raul Jungmann (PPS-PE), da vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, Maria Lúcia Cardoso (PMDB-MG), e dos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Carlos Zarattini (PT-SP), chegou entre sábado e segunda-feira e deixou o país ontem.
Temer seguiu viagem para Genebra, na Suíça, onde participa de reunião preparatória para a Conferência Mundial de Presidentes de Parlamento. Os demais voltaram ao Brasil.
Temer minimizou o aspecto comercial do convite. Ele preferiu valorizar os encontros que manteve com parlamentares da França e disse que, em retribuição, convidou-os a irem ao Brasil, para reforçar os laços entre os Legislativos dos dois países.
- Não vejo isso como uma tentativa de sedução, até porque, se fosse, seria muito fraca - argumentou. - Se fosse a Câmara que tivesse pagado a nossa viagem, aí, sim, eu tenho certeza de que fariam um escândalo em cima disso. Acho que só não haveria questionamentos se nós tivéssemos vindo a pé.
Oliver Darrason, presidente do Instituto de Altos Estudos de Defesa Nacional (IHEDN, na sigla em francês) e um dos responsáveis pelo convite, admitiu que a oferta da viagem fazia parte de uma promoção dos equipamentos franceses.
- As iniciativas desse tipo são comuns. Fazemos a toda a hora convites como estes, para melhor explicar as nossas tecnologias e metodologias em Defesa - afirmou, confirmando ter pagado as despesas da viagem.