Boeing aposta alto na Embraer

1

Parceria com empresa brasileira seria a resposta ao favoritismo francês declarado por ministro Jobim

Marcelo Ambrosio – Jornal do Brasil

O cronograma do projeto FX-2, de compra de 36 caças supersônicos para a Força Aérea Brasileira, uma concorrência que pode alcançar valor total de US$ 2 bilhões, está entrando na reta final. Os três concorrentes fecharam contratos com empresas brasileiras que serão as beneficiadas com a transferência de tecnologia prevista, a parte do contrato considerada decisiva para a escolha do jato que substituirá os veteranos Mirages da 1ª Ala de Defesa Aérea, baseados em Anápolis.

Semana passada dois executivos da Integrated Defense Systems, o braço militar da Boeing, estiveram em Brasília para os acertos finais com parceiros nacionais. Otimistas, os fabricantes do F18EF SuperHornet estão confiantes que o pacote que prepararam será o escolhido para equipar a FAB. O nível da aposta é dado pela presença do próprio vice-presidente executivo da gigante aeroespacial, além de CEO da IDS, Jim Albaugh, na capital, e do principal gerente do projeto, Michael Coggins.

A chave da estratégia é uma parceria abrangente com a Embraer, uma das maiores fabricantes de jatos do mundo. Dos três candidatos – os outros são o Raffale francês e o Gripen NG sueco – o programa da Boeing é o que mais concentra a transferência em um só sócio local. Ao mesmo tempo também é um dos que conta com o maior envolvimento governamental: as missões comerciais que vieram a Brasília desde o ano passado sempre contaram com a participação de representantes tanto da área militar quanto da área civil de Washington.

– Fechamos 27 parcerias com companhias grandes como a Embraer, ou menores como Santos Lab e Mektron – afirma Albaugh, em um encontro reservado com o Jornal do Brasil no hotel onde se hospedava na capital federal. A visita, de acordo com o próprio vice-presidente, serviu para contatos com autoridades envolvidas no processo do Fx-2, além da finalização da lista de parceiros.

– Somos a maior companhia de produção de jatos do mundo e podemos fazer com que essas empresas participem de projetos de desenvolvimento do SuperHornet, em programas de reconhecimento e inteligência e nos sistemas de satélites. Cada real pago pelo Brasil será investido aqui – completou o vice-presidente, referindo-se à possibilidade de serem criados 5 mil empregos no país.

Outra aposta é o atrativo representado pela possibilidade de empresas brasileiras ganharem acesso ao cadastro de fornecedores do departamento de Defesa, algo que Albaugh aponta como uma importante abertura.

– Trata-se de uma perspectiva de negócios de R$ 1,5 trilhão para essas companhias. Isso permitirá que os brasileiros participem de uma cadeia ampla de suprimentos – avaliou. – Posso garantir que toda a tecnologia que foi pedida está sendo oferecida na nossa proposta, que é um plano de longo prazo, para 30 anos, nos quais os brasileiros estarão sempre integrados.

Em um encontro separado, Coggins deu detalhes sobre a abrangência do negócio com os fabricantes brasileiros e do que representaria esse passaporte para o cadastro, o acesso a um volume de compras em torno de US$ 60 bilhões por ano – o orçamento para aquisições no departamento.

- Dos 27 contratos que incluimos na nossa proposta, dez são com a Embraer. - revela Coggins ao JB.

Em termos de propaganda, a visita de Albaugh e Coggins ocorreu em um momento oportuno para a companhia. Coincidiu com a apresentação, dois anos e meio antes do prazo previsto, do primeiro SuperHornet produzido para a Força Aérea da Austrália, em um modelo de desenvolvimento similar ao que está sendo montado aqui.

Perguntado sobre as sensibilidades políticas que envolvem a proposta americana – o governo precisa autorizar a liberação das licenças, principalmente dos softwares – tanto Albaugh quanto Coggins se disseram tranquilos. Para o gerente do projeto, já houve avanços significativos ao longo do período de negociação entre o fabricante e as autoridades de defesa dos EUA. Em janeiro, das duas mil licenças necessárias para o F18EF, o Brasil não havia obtido aval para apenas sete. Coggins não revela se os vetos foram reduzidos, mas adianta um desdobramento importante em um ambiente no qual a plataforma vale menos que o conjunto de softwares que carrega.

– O sistema de gerenciamento de armas, por exemplo, obteve autorização integral de transferência para o programa do caça brasileiro – adiantou Coggins. Isso permitirá, segundo ele, que haja uma compatibilidade entre os gerenciadores e o armamento, que inclui a opção brasileira por um míssil ar-ar de fabricação nacional.

Executivos da IDS destacam capacidade de atender demanda

A visita dos executivos americanos foi um contraponto interessante à viagem de sete parlamentares brasileiros à França e do próprio ministro da Defesa, Nelson Jobim, que participou das festividades da data nacional francesa, o 14 de julho. Jobim, por sinal, falou a jornalistas brasileiros que o consórcio francês da Dassault, fabricante do caça Raffale, estaria com alguma vantagem na concorrência dado o formato e o nível de transferência de tecnologia apresentado na proposta francesa para o FX-2.

Neste caso, a negociação após a assinatura do contrato seria menos dependente de um acompanhamento do Estado, diferentemente do que prevê a forma de atuação dos EUA – na qual haveria consultas permanentes ao Pentágono a cada necessidade de mudança ou atualização dos sistemas. Diante da afirmação, Michael Coggins não pareceu preocupado.

– Estamos confiantes que a nossa proposta é a melhor e atende a todas as exigências que a Força Aérea faz no projeto. Além disso, a fórmula original prevê 80% de troca de tecnologia direta, ligada aos aspectos da operação da aeronave, e 20% de offset indireto. Estamos inteiramente dentro disso. Não estou nem um pouco preocupado quanto a esse aspecto.

Jim Albaugh também comentou sobre a capacidade da Boeing de atender à demanda do contrato, ao mesmo tempo em que disputa uma concorrência na Índia na qual a previsão é a de 126 aeronaves. A planta industrial de Saint Louis, Missouri, tem capacidade instalada para 42 aviões por ano.

– Podemos fazer mais. Estamos aumentando a participação da divisão de aviões nas vendas internacionais da companhia, que passaram de 5% em média nos últimos anos para 16% no ano passado, – explica Albaugh, acrescentando que o objetivo é bater a casa dos 20% em termos de vendas (embora recentemente a empresa tenha anunciado o corte de 10 mil postos de trabalho). – Estamos disputando também, além da Índia, na Dinamarca e na Grécia. Temos um programa de desenvolvimento constante - completou.

Postar um comentário

1Comentários

  1. Para ser sincero não acredito na transferência de tecnologia sensíveis por partre do governo dos E.U.A., agora para venderem prometem o céu e a terra depois..................

    ResponderExcluir
Postar um comentário

#buttons=(Ok, Vamos lá!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Check Now
Ok, Go it!