Presidente dos EUA deve assinar acordo com colega sul-coreano em que garantirá proteção ao aliado diante da ameaça da Coreia do Norte
Rodrigo Craveiro – Correio Braziliense
Preocupação para a Coreia do Norte, alívio para a Coreia do Sul e dúvidas em relação ao futuro do regime de não proliferação. No próximo dia 16, durante encontro com o colega sul-coreano, Lee Myung-bak, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve assinar um acordo garantindo a permanência do país aliado sob seu “guarda-chuva nuclear”. Em tese, Washington se compromete a proteger a Coreia do Sul de ataques externos por meio da dissuasão nuclear (veja quadro). O pacto verbal ocorria de maneira tácita desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953, mas jamais tinha sido colocado no papel.
Analistas consultados pelo Correio acreditam que o “guarda-chuva nuclear” seria uma das poucas ferramentas da comunidade internacional para conter as ambições atômicas de Pyongyang e fazer frente à tensão crescente na Península Coreana. O governo de Myung-bak alertou ontem que o regime de Kim Jong-il estaria preparando manobras militares, após constatar que barcos pesqueiros chineses foram vistos deixando uma região do Mar do Leste, próximo à fronteira entre as Coreias. Ao mesmo tempo, navios de guerra norte-coreanos já ocupam a área.
Diante dessa ameaça, o porta-voz do Pentágono, Geoff Morrel, disse à agência Reuters que os Estados Unidos já consideram “outras opções”. “As seis partes preferem o uso da diplomacia”, afirmou, referindo-se às conversas entre as duas Coreias, China, Rússia, Japão e Estados Unidos. “Mas se percebermos que a conversa não obteve o resultado que estávamos prevendo, teremos que procurar outras opções para nos defendermos, se necessário.”
De acordo com o iraniano Shahram Chubin, autor de Ambições nucleares do Irã e especialista do Carnegie Endowment for International Peace, o “guarda-chuva nuclear” dos EUA tenta tranquilizar os aliados asiáticos, especialmente o Japão e a Coreia do Sul, diante do recente teste nuclear da Coreia do Norte. “A questão é que qualquer país poderá se sentir pressionado a desenvolver suas armas nucleares, a fim de contrabalançar o arsenal de Pyongyang”, alerta. “Tóquio é sensível sobre o lançamento de mísseis norte-coreanos em sua direção, sobre o Mar do Leste.”
China
Chubin admite a impotência da Organização das Nações Unidas (ONU) diante da atual crise. Ele explica que o Conselho de Segurança está dividido, em parte devido à resistência de Moscou e de Pequim em seguir a liderança norte-americana. “Os dois governos pretendem perseguir seus próprios interesses nacionais, dando mais tempo à Coreia do Norte. Ambos estão convencidos de que mais pressão não produzirá resultados concretos”, admite. O especialista acrescenta que a China também busca prevenir o colapso da ditadura de Kim, com quem mantém laços comerciais, ou uma migração em larga escala de norte-coreanos. “Todos os países sentem que as ações de Pyongyang refletem pressões internas associadas à sucessão do atual regime”, conclui o iraniano.
O historiador chinês Yong Chen, professor da Universidade da Califórnia-Irvine (Estados Unidos), elogia a intenção da Casa Branca, mas adverte que ela não resolverá o problema. “Além de acalmar a população, o guarda-chuva nuclear será um teste sobre como o governo Obama responderá a uma crise internacional como essa. Também dará a ele a oportunidade de desenvolver e articular uma ‘doutrina Obama’”, comenta.
Segundo Chen, é possível que haja escaramuças no Mar do Leste, mas ele crê que elas não agravarão a tensão até transformá-la em um conflito fora de controle. “A liderança norte-coreana é dominada por uma mentalidade que reflete o isolamento de Pyongyang e sabe que qualquer confronto sério rapidamente levaria o regime à derrocada.”
SALVAGUARDA CONTRA A BOMBA ATÔMICA
Conceito do “guarda-chuva nuclear” remonta ao fim da Segunda Guerra Mundial
O que é
Garantia de proteção a outros países, diante da ameaça de um ataque nuclear
Histórico
No fim da década de 1940, o Japão — sob pressão dos EUA — ratificou leis criando uma dependência militar dos Estados Unidos. Tóquio dependeria da defesa estratégica norte-americana para fazer frente a ameaças, como a então União Soviética e a China
Benefício à Coreia do Sul
Os EUA prometem, desde 1978, que fornecerão capacidades de dissuasão nuclear para Seul contra a ameaça nuclear norte-coreana, sob os auspícios do tratado de defesa mútua entre os dois países
Proposta principal
Prevenir a proliferação nuclear